Além da Letra

"Cada enunciado é um elo de uma cadeia muito complexa de outros enunciados" Mickail Bakhtin

segunda-feira, dezembro 04, 2006


Comênio

O pai da didática moderna


O filósofo tcheco combateu o sistema medieval, defendeu o ensino de "tudo para todos" e foi o primeiro teórico a respeitar a inteligência e os sentimentos da criança




“Não se consegue de uma só semente produzir a mesma árvore? De um método farei alunos capazes”

Contexto Histórico

Comenius viveu num dos períodos mais conturbados da Europa, em meio a um processo de longas e contínuas guerras religiosas e na transição do período do feudalismo para a modernidade. Submetido a profundos sofrimentos, Comenius não deixou de buscar, intensamente, alternativas para educar melhor o ser humano, e assim, possibilitar-lhe vida mais digna e humana. Para ele, a educação era o caminho para um ser humano e uma sociedade melhor.
Conhecer o contexto de sua prática e produção teórica, pode contribuir para a reconstrução da educação, tão necessária para a nossa prática pedagógica.

Biografia

O nome Comênio é o aportuguesamento da assinatura latina (Comenius) de Jan Amos Komensky, nascido em 1592 em Nivnice, Morávia (então domínio dos Habsburgos, hoje República Tcheca).
Foi filho único de um casal de membros do grupo protestante Irmãos Boêmios. Na Universidade de Heidelberg (Alemanha), se entusiasmou com as idéias de pensadores que criavam uma concepção de ciência baseada no empirismo. Seguiu carreira religiosa e teve de fugir para a Polônia quando, no início da Guerra dos 30 Anos, em 1618, o rei Ferdinando II decidiu reimpor o catolicismo na Boêmia. Sua revolta com a situação o levou a escrever obras filosóficas e pedagógicas satirizando a ordem vigente e propondo mudanças radicais. Essas idéias seduziram pensadores da Inglaterra, que o convidaram a trabalhar no país, mas o projeto foi abortado pela eclosão da Guerra Civil Inglesa, em 1642.
Tentativas de reforma escolar a pedido dos governos da Suécia e da Hungria acabaram fracassando — em parte por causa da insistência do pensador em divulgar sua "pansofia", sem sucesso — e ele voltou para a Polônia. Comênio teve novamente de fugir de uma guerra civil e estabeleceu-se em Amsterdã, onde permaneceu até morrer, em 1670. Por essa época seus livros de texto ilustrados para o aprendizado de línguas e ciências tinham se tornado uma bem-sucedida novidade nas escolas da Europa.


Deixou mais de 200 obras entre as quais:

Labirinto do Mundo - Didáctica checa - Guia da Escola Materna - Novíssimo Método das Línguas - Mundo Ilustrado - Porta Aberta das Línguas - Didacta Magna - Opera didactica omnia ab anno 1627 ad 1657 - Consulta Universal Sobre o Melhoramento dos Negócios Humanos - O Anjo da Paz - A Única Coisa Necessária.



Contribuição para a Educação

Foi um dos maiores educadores do século XVII e concebeu uma teoria humanista e espiritualista da formação do homem, que resultou em propostas pedagógicas hoje consagradas ou tidas como muito avançadas. Entre essas idéias estavam o respeito ao estágio de desenvolvimento da criança no processo de aprendizagem, a construção do conhecimento através da experiência, da observação e da ação e uma educação sem pinicão, mas com diálogo, exemplo e ambiente adequado. Pregava ainda a necessidade da interdisciplinaridade, da afetividade do educador e de um ambiente escolar arejado, bonito, com espaço livre e ecológico. Estão ainda entre as ações propostas por ele: coerência de propósitos educacionais entre família e escola, desenvolvimento do raciocínio lógico e do espírito científico e a formação do homem religioso, social, político, racional, afetivo e moral.
O método deve seguir os seguintes momentos: tudo o que se deve saber deve ser ensinado; qualquer coisa que se ensine deverá ter aplicação prática no seu uso definido; deve ensinar-se de maneira direta e clara e ensinar a verdadeira natureza das coisas, partindo de suas causas; explicar primeiro os princípios gerais e em seu devido tempo; não abandonar nenhum assunto até sua perfeita compreensão; dar a devida importância às diferenças que existem entre as coisas.
Defendia o ensino básico e secundário e, a criação de níveis escolares como maternal e jardins de infância.
A Proposta da didática magna: a educação realista e permanente; método pedagógico rápido, econômico e sem fadiga; ensinamento a partir de experiência quotidiana; conhecimento de todas as artes; ensino unificado.

Propôs um sistema articulado de ensino reconhecendo o direito igual para todos os homens ao saber “ensinar tudo para todos”, que sintetizava os princípios e fundamentos que permitiriam ao homem colocar-se no mundo como autor. Para ele a didática é ao mesmo tempo, processo e tratado: é tanto o ato de ensinar quanto a arte de ensinar.