Além da Letra

"Cada enunciado é um elo de uma cadeia muito complexa de outros enunciados" Mickail Bakhtin

sexta-feira, março 16, 2007

Viver com naturalidade
Capítulo 17, item 10

“... Vivei com os homens de vossa época, como devem viver os homens...”
“... Fostes chamados a entrar em contato com espíritos de natureza diferente, de caracteres opostos; não choqueis nenhum daqueles com os quais vos encontrardes. Sede alegres, sede felizes, mas da alegria que dá uma boa consciência...”
(Capítulo 17, item 10.)

Viver “felizes segundo as necessidades da Humani­dade” (1) é viver com naturalidade, ou seja, participar efetivamen­te na sociedade usando nosso jeito natural de ser.
Todos nós fomos abençoados com determinadas vocações, e o mundo em que vivemos precisa de nossa cooperação individual, para que possamos, ao mesmo tempo, desenvolver nossas facul­dades inatas na prática social e aumentar nossa parcela de contri­buição junto à comunidade em que vivemos, no aperfeiçoamento da humanidade.
Possuímos talentos que precisam ser exercitados para que possam florescer, mas poucos de nós damos o real valor a essa tarefa. Esses mesmos talentos estão esperando nosso empenho de “se dar força”, a fim de colocá-los em plena ação no intercâmbio das relações com as pessoas e com as coisas.
Não podemos então olvidar que viver no mundo é “entrar em contato com espíritos de natureza diferente, de caracteres opos­tos”, (2) reconhecendo que cada um dá o que tem, vive do jeito que pode, percebe da maneira que vê, admitindo que, por se tratar de tendências, talentos e vocações, todos nós temos a peculiar neces­sidade de “ser como somos” e “estar onde quisermos” na vida social.
Talentos são impulsos naturais da alma adquiridos pela re­petição de fatos semelhantes, através das vidas sucessivas. Vocação é a “voz que chama”, palavra oriunda do latim “vocatus”, que quer dizer chamado ou convocação.
Pelo fato de a Natureza ser uma verdadeira “vitrina” de biodiversidade ou multiplicidade de seres, é que cada indivíduo tem suas próprias ferramentas, úteis para laborar na lida social.
Todas as árvores são árvores, mas o pessegueiro não tem as mesmas peculiaridades do limoeiro, nem o abacateiro as da mangueira. Por isso, cada pessoa também se exprime em níveis diversos segundo as múltiplas formas com que a Sabedoria Divina nos plasmou na criação universal.
Assim, todos somos convocados a “agir no social”, não com “um aspecto severo e lúgubre, repelindo os prazeres que as condições humanas permitem”, (3) mas felizes, fazendo uso de nos­sos potenciais e faculdades prazerosamente.
Jesus de Nazaré vivia, à sua época, uma vida mística e distante da sociedade?
O Cristo de Deus se integrava intensamente no social, “parti­cipando das festas de casamento”, (4) “do relacionamento fraterno, amando intensamente os amigos” (5) “Sem preconceito algum fazia visitas e tomava refeições em companhia de variadas criaturas”, (6) percorrendo cidades, campos e estradas sempre acompanhado dos amigos queridos e das multidões que O cercavam.
Em vista disso, devemos entender que as leis do Criador deram às criaturas inclinações e aptidões íntimas e originais, para que elas pudessem conviver entre si, oferecendo a cada uma participação também original na vida comunitária de maneira “sui generis”.
Devemos, sim, viver no mundo com a consciência de que somos espíritos eternos em crescimento e progresso, e de que o nosso ãnimo de viver” em sociedade depende de colocarmos em prática as nossas verdadeiras capacidades e vocações da alma.
Lembremo-nos, contudo, de que a palavra “ânimo” quer dizer “alma”, do latim “animus”, e de que devemos, cada um de nós, “viver com alma” no círculo social do mundo.

(1), (2) e (3) O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 17º, item 10.
(4) João 2:1 e 2.
(5) João 15:13.
(6) Mateus 9:10.

Livro: Renovando Atitudes