Além da Letra

"Cada enunciado é um elo de uma cadeia muito complexa de outros enunciados" Mickail Bakhtin

terça-feira, abril 17, 2007



DESIGUALDADE DE ACESSO À EDUCAÇÃO E DISPARIDADES SOCIOCULTURAIS


Apesar de eliminadas diversas barreiras ao acesso à educação (discriminações legais, econômicas, institucionais, etc.), para permitir que todas as classes sociais alcançassem os níveis secundários e superiores, ainda se viam pouca penetração, por parte das classes mais pobres, nestes níveis educacionais. Isto parece ter sido motivado, principalmente, pelas diferenças culturais existentes.
As classes mais baixas tendiam a valorizar menos o estudo superior por achar nele uma busca demorada por resultados incertos. Era mais rápido e seguro alcançar as profissões mais simples, mesmo com ganhos menores, pois atendiam a seus anseios.
Outro fator a ser considerado era a questão do tempo. Enquanto as classes média e alta visualizavam seus objetivos no longo prazo, procurando resultados que poderiam demorar, mas que seriam melhores (além de considerarem uma regressão social o fato de não ter curso superior), as classes mais baixas estabeleciam seus ideais no curto prazo.
A influência familiar também foi considerada como determinante no estímulo ao estudo. Os filhos de operários viam, no estudo básico, uma obrigação em que os pais os castigavam para que tirassem boas notas. Os filhos da burguesia tinham, por parte dos pais, o convite à razão e à necessidade de autodomínio sendo estimulados a se dedicarem ao máximo.
A influência da linguagem aparecia mais como o efeito, do que a causa das diferenças sociais. Os filhos de operários utilizavam uma linguagem mais simples, inclusive com utilização de gestos voltada para a individualidade e para elementos concretos. Os filhos das classes média e alta usavam linguagem mais elaborada, envolvendo aspectos mais universalistas, demonstrando maior conhecimento das estruturas mais complexas do conhecimento.
Como conseqüência da realidade econômico-social em que cada classe vivia, as famílias mais pobres tinham, nos filhos, a preparação para funções mais definidas e voltadas para a contribuição ao próprio meio familiar. As famílias da classe burguesa tinham ênfase maior no estímulo a tomada de decisões com orientação pessoal do seu ajustamento social.
Através da interiorização dos valores de cada classe, via-se a tendência, através do tipo de linguagem e de seu conteúdo, a levar os estudantes pobres à acomodação ao que é básico, enquanto o mais favorecido a verem no estudo, desde as etapas mais básicas, possibilidades de alcançar horizontes mais vastos.
Todos esses conceitos, porém, foram criticados por desprezar o fato de que a linguagem do pobre não era, necessariamente, uma linguagem pobre. Tinha, sim, diferença na ênfase dada a seus valores mais importantes. Esta crítica sugeria uma pedagogia adaptada à realidade em que essas classes viviam.
É fato que uma linguagem mais popular (menos elaborada), comum nas classes mais pobres, sendo apenas usada como acompanhamento emocional da ação, carecesse de recursos indispensáveis à formação do pensamento. Baseado nesse e nos argumentos já citados, propôs-se uma intervenção na educação de modo a aumentar a capacidade de adquirir conhecimentos através de estratégias compensatórias.
Foram criados estímulos educativos que compensassem a carência cultural do meio familiar e social destes alunos. Porém isto não deu certo. As explicações sobre as causas do problema haviam sido colocadas como contraditórias. O melhor seria torná-las um conjunto de avaliações que, embora fossem diversos, no geral poderia contribuir, cada uma, para um bom resultado.
Contudo a causa maior do erro estava na própria escola. Os alunos das classes menos favorecidas estavam recebendo o ensino de uma cultura totalmente diferente da sua. Esses recebiam informações que, para eles, eram irreais ou, até mesmo, contraditória a sua própria cultura.
O uso de expressões desconhecidas ou de termos específicos a um meio em que os alunos não pertenciam também contribuiu para o fracasso da iniciativa.
A questão genética também foi colocada. Segundo alguns estudiosos, o filho da classe burguesa herdaria de seus pais uma formação genética que favorecia o intelecto. Contudo o que se pode confirmar é que, ao contrário desse raciocínio, pessoas bem dotadas, vindas da classe operária conseguiam penetrar nos meios mais ricos através de seus êxitos nos estudos, passando assim, não só a contribuir com essas classes, como a fazer parte das mesmas.