Além da Letra

"Cada enunciado é um elo de uma cadeia muito complexa de outros enunciados" Mickail Bakhtin

domingo, julho 19, 2009

EDUCAÇÃO E DEMOCRATIZAÇÃO ESCOLAR

[...] de como, quando mais se falou em democracia no interior da escola, menos democrática foi a escola; e de como, quando se menos falou em democracia, mais a escola esteve articulada com a construção de uma ordem democrática". (SAVIANI, 2000, p. 36) .

Pode parecer utopia o desejo de todos em “democratizar a escola”, mas é pertinente esta colocação.
Princípios políticos ideológico, por vezes, deformam a intenção deste ideal, ou seja, o governo sempre quis uma sociedade alienante para incutir seus ideais. Necessário se faz que a sociedade abra as portas de seus direitos e participem ativamente do processo de qualidade da educação numa democratização participativa.
A direção da discussão hoje é que a escola se democratize, e para isso, é essencial que a sociedade também participe do processo, se integrando das decisões políticas, sociais e econômicas. A democratização da escola acontecerá quando a democratização da sociedade for viável. É uma relação de mão dupla.
A democratização não se limita aos corredores da instituição escolar. Todos os envolvidos: professores, alunos, equipe pedagógica e comunidade são peças fundamentais para que isso possa ocorrer.
A historia do povo deve perpassar pela escola. A cultura não deve ser imposta pela escola, antes de tudo, ela é a soma de muitos saberes e conhecimentos. A escola é um espaço para trocas.
O importante para democratizar a escola, é que seja ela realizada através do desejo da sociedade, ou seja, a escola deve refletir os anseios da população, mas não amanhã e sim imediatamente.
Para isso, surgem três aspectos da democratização que defendem o seguinte:
 Democratizar a escola é democratizar os processos administrativos: eleições para dirigentes escolares, com participação de professores, alunos e comunidade. Não mais o governo ou o MEC, como no caso da Universidade indicarem um dirigente. Deve-se afastar o aspecto político que envolve esta relação. O governo quer sempre implementar seu interesse.
 Democratizar a oferta da escola: o estado garantir vaga para todos em uma escola gratuita e pública. A escola particular, neste contexto, é contrária a democratização, pois seu interesse é a educação como uma mercadoria, pois ela visa o lucro.
 Democratização dos aspectos pedagógicos: não centralizar, na mão de uma única pessoa, a decisão do que é melhor para a sociedade escolar. O melhor é a democratização participativa.
Entendendo estes três aspectos, fica claro que a participação ativa de todos, através de atos e decisões, favorecerá a democratização.
Os pressupostos teóricos dessa discussão apontam que a escola hoje é o reflexo dos processos centralizados e autoritários da sociedade brasileira. A sociedade é subordinada ao interesse dos que estão no poder (a burguesia).
Dirigente Escolar = Poder Executivo do Estado
O autoritarismo na escola não está apenas no dirigente, está ligado no professor, orientador etc. A maioria não permite que a sociedade participe das decisões escolares.
Deve-se levar em conta a necessidade da comunidade. Alguns professores solicitam aumento da carga horária para realizarem seu trabalho, sem saberem se isso é do interesse da sociedade. Outras vezes ignoram o desejo da comunidade em querer essa ou aquela disciplina, pois é a necessidade dela. Vezes outras, colocam-se determinadas atividades para enfeitar o “pavão”, deixando de lado a opinião de seus maiores espectadores: alunos e comunidade.
O autoritarismo da elite é que vigora: é a hegemonia.
Outro aspecto a observar é a deformação da escola pública, quando os próprios professores torcem pelo fim da atividade pedagógica. Sabe o que ocorre? A elite defende a escola particular para os seus e a escola pública, com baixa qualidade de âmbito pedagógico, para os pobres.
Essas teorias acabam colocando a realização da democracia da escola para amanhã. Ela não será conquistada se tivermos apenas os três aspectos de democratização (Democratizar a escola é democratizar os processos administrativos; Democratização dos aspectos pedagógicos; Democratização dos aspectos pedagógicos ). Mas a visão da democratização deve ser ampliada.
Destaca-se o autoritarismo, como o recurso que o Estado tem, para monopolizar. Surge à divisão dos que sabem e dos que não sabem, estes últimos recebendo embrulhados os pacotes educacionais.
A escola, para a sociedade, passa a ser definida da forma que mais convém aos “donos do saber”, que implementam sua hegemonia.
Por receberem pacotes burocráticos prontos, estabelecidos pelos que ficam em “cima”, os professores “alienados” não se atentam que é no trabalho pedagógico, no interior da escola, que podem usá-lo como instrumento da construção de uma educação melhor.
Segundo Rodrigues (2003), em seu texto Educação e Democratização Escolar, para que a escola seja democrática é primordial que seja respeitado o desejo da sociedade: esta sabe que tipo de educação é melhor. A sociedade deve recuperar a dimensão política da educação, não deixar nas mãos de “terceiros” o futuro dos cidadãos.
A questão educacional, em discussão no âmbito da escola, permite a sociedade recuperar a dimensão do processo social, onde passa ela a fazer escolhas, defender seu ponto de vista sobre o que julga fundamental.
O ideal é promover uma ampla discussão na sociedade, onde serão discutidos os aspectos primordiais, escolhidos por todos na educação. Será um novo comportamento social que definirá as novas práticas educativas.
Para tanto, Rodrigues (2003) aponta, entre outras coisas, que o papel dos intelectuais e das lideranças deve ser de intérpretes das “carências” que a sociedade necessita, para recuperar a dignidade da educação.
O pedagogo, os técnicos da educação e os dirigentes não deverão acatar a determinação do Estado, e sim serem parceiros da sociedade, na medida em que mediarem os dignos anseios dos telespectadores da escola.
Outro autor que discute a situação da educação é Dermeval Saviani em seu livro "Escola e Democracia” (1991). Seu livro é uma tentativa de esclarecimento da situação da Educação e sua relação com os diferentes aspectos da sociedade, da história e dos momentos políticos.
A educação é considerada como um instrumento da classe dominante capaz de reproduzir o sistema "dominante-dominado", sendo responsável pela marginalização, uma vez que percebe a dependência da educação em relação à sociedade, tendo em sua estruturação a reprodução da sociedade na qual ela se insere.
Entendemos, assim, que a democracia encontra dificuldades para atingir a educação. [...] de como, quando mais se falou em democracia no interior da escola, menos democrática foi a escola; e de como, quando se menos falou em democracia, mais a escola esteve articulada com a construção de uma ordem democrática". (SAVIANI, 2000, p. 36)
A educação que deveria ser o instrumento para as escolhas do homem livre, democrático, cidadão e autônomo acaba, então se tornando mais uma ferramenta de manipulação e de homogeneização do pensamento crítico da sociedade. Ela legitima as diferenças sociais e marginaliza, ao invés de tencionar a luta contra a ideologia das classes dominantes, e dos direitos dos seres humanos: o conhecimento, que deve ser universal e possibilitado a todos.
O autor faz alusão a teoria da curvatura da vara de Lênin pois assim como para se endireitar uma vara que se encontra torta não basta colocá-la na posição correta mas é necessário curvá-la no lado oposto, assim, também, no embate ideológico não basta enunciar a concepção correta para que os desvios sejam corrigidos; é necessário abalar as certezas, desautorizar o senso comum. E para isso nada melhor do que demonstrar a falsidade daquilo que é tido como obviamente verdadeiro demonstrando ao mesmo tempo a verdade daquilo que é tido como obviamente falso.
Saviani (1991) afirma:

Creio ter conseguido fazer curvar a vara para o outro lado. A minha expectativa é justamente que com essa inflexão a vara atinja o seu ponto correto, vejam bem, ponto correto esse que não está na pedagogia tradicional, mas está justamente na valorização dos conteúdos que apontam para uma pedagogia revolucionária.” Então a teoria de curvatura da vara pode ser a forma da Educação criar sua revolução para a quebra desse sistema, uma vez que se quebra a neutralidade da Educação, passando a ser considerada parte ativa neste processo de transformação.
Percebemos que a relação entre e educação e a sociedade, bem como a responsabilidade dos professores em transformar, não o mundo, mas sim cada indivíduo que assiste a sua aula compreendendo melhor o mundo e seus acontecimentos, assim como seu papel dentro do sistema, seus deveres e seus direitos permitirá a construção de um país melhor.
As pequenas revoluções que acontecem na sala de aula (aquilo que podemos nos aventurar a chamar de ruptura ou quebra de paradigmas) podem dar a chance de uma transformação histórica num período maior de tempo.
É preciso então que se tome consciência das lutas sociais e das formas de dominação ideológicas que sofre a educação hoje, regulando o equilíbrio dos conteúdos a serem desenvolvidos nas salas de aula e o discurso político e histórico usado pelo professor.
Uma das preocupações primordiais da escola deveria ser a formação cidadã. Cidadania é intitulada por Gadotti como a consciência de direitos e deveres da democracia e defende uma escola cidadã como a realização de uma escola pública e popular, cada vez mais comprometida com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Para isso, a escola deve propiciar um ensino de qualidade, buscando a formação de cidadãos livres, conscientes, democráticos e participativos.
A participação é um dos cinco princípios da democracia. Segundo o sociólogo Herbert de Souza sem ela, não é possível transformar em realidade, em parte da história humana, nenhum dos outros princípios: igualdade, liberdade, diversidade e solidariedade. Nesse sentido, a participação não pode ser uma possibilidade aberta apenas a alguns privilegiados. Ela deve ser uma oportunidade efetiva, acessível a todas as pessoas. Além disto, é preciso que ela assuma formas diversas de participação na vida da família, da rua, do bairro, da cidade, na escola e no próprio país. Participação é, ainda, um direito estendido a todos sem critérios de gênero, idade, cor, credo ou condição social.
Possível é ensinar e buscar formas de participação social que ajudem na construção de uma cidadania, constituídas de pessoas ativas, conscientes de seus deveres e comprometidas com a conquista dos direitos humanos. A prática participativa permite questionar os valores e os interesses que sustentam a sociedade.
Entendemos que só se aprende a participar, participando.Ensina-se a participar abrindo espaços para que as pessoas participem. Uma prática social participativa ensina a cidadania e amplia os limites da qualidade de vida.
Para se educar para vida é necessário promover espaços participativos. Somente assim será possível o respeito e a valorização das diferenças presentes em nosso território brasileiro. Se isso não acontecer, alguém será excluído, e esse alguém com certeza será o mais fraco. Isso é são um desafio e um compromisso da escola para a formação de uma sociedade democrática, justa, igualitária e solidária.

Educação de Jovens e Adultos

Uma alfabetizanda

Há muitos anos, quiseram me ensinar a escrever o nome, em meu primeiro emprego de faxineira, e foi só o que aprendi. Passei minha vida inteira sem saber ler nem escrever, e precisei ser esperta.
Sou inteligente, tem muita coisa que eu sei. Por exemplo, sei quando é hora de pedir aumento e sei quando a patroa tem razão se manda eu limpar alguma coisa de novo, pois não limpei bem da primeira vez. Quando é época de eleição, eu sei qual é meu candidato. Levanto muito cedo, compro pão e leite e pago a conta porque conheço cada nota e cada moeda pela cor e pelo tamanho. Moro longe do serviço, e pego sempre o ônibus certo, que conheço pelo horário, pela cor, pelo motorista ou aprendi a pedir para alguém me indicar. Quando vou fazer uma limpeza, sei qual é o vidro do álcool, qual é o do desinfetante, como ligar a máquina de lavar para roupa pesada e roupa leve.
Só que hoje começa uma nova fase na minha vida: vou começar a aprender a ler e a escrever. Sei que vou conseguir, pois para chegar até onde cheguei sem saber isso, precisei enfrentar meus medos, aprendi a ser gente.
Quero muito aprender a ler, porque vou poder fazer muitas coisas novas e vou fazer as coisas que já faço de um jeito mais fácil. Vou poder ir ao cinema ver filme estrangeiro, vou poder ler livros, jornais e revistas, vou poder escrever cartas para minha mãe, vou poder anotar recado quando alguém telefonar na casa da família onde trabalho, vou fazer curso de culinária, ler e escrever receitas e virar cozinheira, ganhando mais dinheiro. Tantas possibilidades, tantos sonhos que finalmente podem se tornar realidade! Estou emocionada...
Mas agora é hora de estudar. O caminho é longo e eu preciso dar um passo por dia. Vou agarrar essa chance com unhas e dentes!

Uma alfabetizanda.

Desafios do Orientador Educacional

Um dos desafios do OE é ...

saber conviver com todo o tipo de consciência.

Orientação Educacional

Orientação Educacional

A Orientação Educacional, hoje, nas escolas exige que o Orientador Educacional tenha sensibilidade, capacidade de dosar e fazer a diferença na vida da pessoa. Além disso, deve ter percepção para capturar aquele ser latente, para que ele possa florescer adequando-se com o mundo veloz de hoje.

Equipe do 6º Período do Curso de Pedagogia da Estácio de Sá
Cristina Ávila , Joselena Coutinho, Michelle Afonso, Lucilene
Alcantara e Cristina Maria