Além da Letra

"Cada enunciado é um elo de uma cadeia muito complexa de outros enunciados" Mickail Bakhtin

sábado, setembro 30, 2006

Sábado

" Não basta se cubra de verniz a corrupção, é indispensável extirpá-la."
"O homem que se esforça seriamente por se melhorar assegura para si a felicidade, já nesta vida."
"É pela edução, muito mais do que pela instrução, que se transformará a Humanidade."
" Será rico, porque rico é todo aquele que sabe contentar-se com o necessário."


Obras Póstumas

terça-feira, setembro 26, 2006

A Canoa

Em um largo rio, de difícil travessia, havia um braqueiro que atravessava as pessoas de um lado para o outro.
Em uma das viagens, iam um advogado e uma professoara.
Como quem gosta de falar muito, o advogado pergunta ao barqueiro:
Companheiro, você entende de leis?
Não. -Responde o barqueiro.
E o advogado compadecido:
É pena, você perdeu metade de sua vida!
A professora muito social entra na conversa:
Seu barqueiro, você sabe ler e escrever?
Também não.-Responde o remador.
Que pena! -Condói-se a mestra- Você perdeu metade de sua vida!
Nisso chega uma onda bastante forte e vira o barco.
O canoeiro preocupado, pergunta:
Vocês sabem nadar?
Não!
Responderam eles rapidamente.
Então é uma pena - Concluiu o barqueiro
-Vocês perderam toda a vida!

"" Não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes"".


Paulo Freire

Funções de Cada Candidato

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Chefe do Poder Executivo da União (país) é eleito com o Vice-presidente.

Cabe a ele:

- Nomear os ministros, que o auxiliam na administração do país em funções como:
planejamento de estratégias nacionais e setoriais para o desenvolvimento econômico, social e urbano; administração dos setores de infraestrutura como serviços de energia e telecomunicações; emissão de moedas; administração de reservas cambiais e fiscalização de operações financeiras. O Presidente da República também é responsável por nomear ministros para áreas de cultura, educação, trabalho, saúde, meio ambiente, agricultura, indústria, justiça entre outros;
- Executar o orçamento formulado, em conjunto, com o Congresso Nacional (composto por deputados federais e senadores). Cabe ao Presidente administrar e aplicar os recursos do país de acordo com sua plataforma de governo (explicitada na carta programa durante as eleições);
- Comandar as Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica). Nomear o cargo de Presidente do Banco Central, além dos órgãos máximos do Poder Judiciário como os Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e dos demais Tribunais Superiores.
- Propor e aprovar (sancionar) as leis votadas pelo Congresso Nacional;

GOVERNADOR

- Chefe do Poder Executivo em cada estado do país. É eleito com o Vice-governador.

A ele cabe:

- Nomear a equipe de secretários que o auxiliará na administração do Estado;
- É o principal porta-voz do Estado junto aos poderes federais (Presidente da República, Ministros, Congresso etc.)
- Executar o orçamento estadual formulado, em conjunto, com os deputados estaduais. Cabe ainda ao Governador administrar e aplicar os recursos do estado de acordo com sua plataforma de governo;
- Propor e aprovar (sancionar) as leis votadas pela Assembléia Legislativa estadual (deputados estaduais).

PODER LEGISLATIVO:

Os poderes legislativos (nos três planos: federal, estadual e municipal) possuem duas funções básicas: legislar, isto é fazer leis e fiscalizar os poderes executivos, municipais, estaduais e federal (central).

SENADOR

Senadores são os representantes diretos dos Estados no Senado Federal. São três senadores para cada estado, independente de seu tamanho e de sua população.

Cabe ao Senador:

- Propor, debater e aprovar leis de interesse nacional;
- Fiscalizar o Presidente, seu Vice e os Ministros de Estado;
- Aprovar a escolha presidencial de membros do Poder Judiciário, presidentes e diretores de empresas do governo federal (Banco Central, Petrobrás etc.) e diplomatas;
- Autorizar operações financeiras externas e condições de crédito;
- Elaborar, em conjunto com o Presidente, o orçamento nacional;
- Elaborar o regimento para o funcionamento do Senado;
- No Brasil temos 26 estados e o Distrito Federal. Desta forma, existem 81 senadores no país.

DEPUTADO FEDERAL

Deputados Federais são os membros da Câmara dos Deputados que representam, proporcionalmente, a população dos estados no Congresso Nacional.

Cabe à Câmara dos Deputados:

- Propor, debater e aprovar leis de interesse nacional;- Fiscalizar o Presidente, seu Vice e os Ministros de Estado;
- Elaborar o regimento para o funcionamento da Câmara dos Deputados;
- Elaborar, em conjunto com o Presidente, o orçamento nacional;
- No Brasil o estado mais populoso (São Paulo) conta com 70 deputados e os menos populosos com 8. Desta forma, existem 513 deputados federais no país.

DEPUTADO ESTADUAL

Deputados Estaduais são os membros da Assembléia Legislativa dos estados.

Cabe a eles:

- Propor, debater e aprovar leis de interesse estadual;
- Fiscalizar o Governador, seu Vice e os Secretários de Estado;
- Elaborar, em conjunto com o Governador, o orçamento estadual.
- O número de deputados estaduais é proporcional à quantidade de deputados federais de cada estado no Congresso Nacional (respeitado um critério especial de cálculo). São Paulo conta com 94 parlamentares em sua Assembléia Legislativa.

segunda-feira, setembro 25, 2006

Aquarela

Composição: Toquinho/Vinicius de Moraes
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva

Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel
num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu
Vai voando, contornando a imensa curva Norte e Sul

Vou com ela viajando Havaí, Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela branco navegando,
é tanto céu e mar num beijo azul

Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo, com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo, sereno e lindo
e se a gente quiser ele vai pousar

Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida
De uma América a outra consigo passar num segundo
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo

Um menino caminha e caminhando chega no muro
e ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está
E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar

Não tem tempo nem piedade nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida,
depois convida a rir ou chorar

Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
de uma aquarela que um dia enfim
Descolorirá

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo (que descolorirá)
e com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo (que descolorirá)
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo (e descolorirá)


Uma das mais belas composições que já ouvi....

Abrindo e Fechando Portas

de Vera Moura


É preciso saber sempre quando se acaba uma etapa da vida. Se insistirmos em permanecer nela, depois do tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido do resto. Fechando os círculos, fechando portas ou fechando capítulos, como queira chamar, o importante é poder fechá-los, deixar ir momentos da vida que se vão enclausurando. Terminou o trabalho? Acabou a relação? Deve viajar? A amizade acabou? Você pode passar muito tempo do presente dando voltas ao passado, tentando modificá-lo.... O desgaste será infinito, porque na vida, você, seus amigos, seus filhos, irmãos, todos estamos destinados a fechar capítulos, virar a página, terminar etapas ou momentos da vida e seguir adiante. Não podemos estar no presente sentindo falta do passado. O que aconteceu, aconteceu. Não podemos ser filhos eternamente, nem adolescentes eternos, nem empregados de empresas inexistentes, nem ter vínculos com quem não quer estar vinculado a nós. Os acontecimentos e as pessoas passam por nossas vidas e temos de deixá-los ir ! Por isso, ás vezes é tão importante esquecer de lembrar, trocar de casa, rasgar papéis, jogar fora presentes desbotados, dar ou vender livros. Na vida ninguém joga com cartas marcadas, e a gente tem que aprender a perder e a ganhar. O passado passou. Não espere que o devolvam. Também não espere reconhecimento ou que saibam quem você é. A vida segue para frente, nunca pra trás. Se você anda pela vida deixando portas "abertas", nunca poderá desprender-se, sem viver o hoje com satisfação. Casamentos, namoros ou amizades que não se fecham, possibilidades de "regresso" (a quê?), necessidade de esclarecimentos, palavras que não foram ditas, silêncios... Fazer a faxina emocional e arrumar espaço nas gavetas do futuro para o novo. Não por orgulho ou soberba, mas porque você já não se encaixa ali, naquele lugar, naquele coração, naquela casa, naquele escritório, naquele cargo. Você não é o mesmo que foi há dois dias, há três meses, há um ano... portanto, nada tem que voltar. Feche a porta, vire a página, feche o círculo !! Você nunca será o mesmo e nem o mundo à sua volta, porque a vida não é estática. Faz bem a saúde mental cultivar o amor por você mesmo, desprendendo-se do que já não está em sua vida. Lembre-se de que nada, nem ninguém é indispensável... É um trabalho pessoal aprender a viver com o que dói, deixar-se ir e aprender a desprender-se. E isso ajuda definitivamente a seguir para frente com tranquilidade. Essa é a vida que todos precisamos aprender a viver....
Recebi essa mensagem de uma amiga....

A Benção do Trabalho - Joana de Ângelis

Sob pretexto algum te permitas a hora vazia.
Justificando cansaço ou desengano, irritabilidade ou enfado, desespero íntimo ou falta de estímulo, evita cair no desânimo que abre claros na ação do bem, favorecen- do a inutilidade e inspirando as idéias perniciosas.
Se supões que todos se voltam contra os teus propósitos superiores, insiste na atividade, que falará com mais eficiência do que tuas palavras.
Coagido pela estafa, muda de atitude mental e renova, surpreendendo-te com motivação nova para o prosseguimento do ideal.
Vitimado por injunções íntimas, perturbadoras, que se enraízam no teu passado espiritual, redobra esforços e atua confiante.
O trabalho é, ao lado da oração, o mais eficiente antídoto contra o mal, porquanto conquista valores incalculáveis com que o espírito corrige as imperfeições e disciplina a vontade.
O momento perigoso para o cristão decidido é o do ócio, não o do sofrimento nem o da luta áspera .
Na ociosidade surge e cresce o mal. Na dor e na tarefa fulguram a luz da oração e a chama da fé.
Maledicências e intrigas, vaidades e presunções, calúnias e boatos, despeito e descrédito, inquietação e medo, pensamentos deprimentes e tentações nascem e se alimentam durante a hora vazia.
Os germes criminógenos de muitos males que pesam negativamente sobre a economia da sociedade se desenvolvem durante os minutos de desocupação e ociosidade.
Os desocupados jamais dispõem de tempo para o próximo, atarantados pela indolência e pela inutilidade que fomentam o egoísmo e desenvolvem a indiferença.
*******
O trabalho se alicerça na lei de Amor que regem o universo.
Trabalha o verme no solo, o homem na Terra e o Pai nas Galáxias.
A vida é um hino à dinâmica do trabalho.
Não há na natureza o ócio.
O aparente repouso das coisas traduz a pobreza dos sentidos humanos.
A vida se agita em toda parte.
O movimento é a lei universal em tudo presente.
*******
Não te detenhas a falar sobre o mal. Atua no bem.
Não te escuses de trabalhar pelo progresso de todos, do que resultará a tua própria evolução.
Cada momento sabiamente aproveitado adiciona produtividade na tua sementeira de esperança.
O trabalho de boa procedência em qualquer direção produz felicidade e paz.
Dele jamais te arrependerás.
Não esperes recompensa pela sua execução.
Produze pela alegria de ser útil e ativo, içando o coração a Jesus, que sem desfalecimento trabalha por todos nós, como o Pai Celeste que até hoje também trabalha.



Joana de Ângelis
Um espírito que irradia ternura e sabedoria, despertando-nos para a vivência do amor na sua mais elevada expressão, mesmo que, para vivê-lo, seja-nos imposta grande soma de sacrifícios. Trata-se do Espírito que se faz conhecido pelo nome JOANNA DE ÂNGELIS, e que, nas estradas dos séculos, vamos encontrá-la na mansa figura de JOANA DE CUSA, numa discípula de Francisco de Assis, na grandiosa SÓROR JUANA INÉS DE LA CRUZ e na intimorata JOANA ANGÉLICA DE JESUS.Conheça agora cada um deste personagens que marcaram a história com o seu exemplo de humildade e heroísmo.
Visite, para continuar sua biografia http://www.espiritismogi.com.br/biografias/joanna.htm

" Aurélio Agostinho "

Lembrai-vos de que aquele que crê é forte pelo remédio da fé.
ESE V,19(Parte)

O Senhor apôs o seu selo em todos os que nele crêem.
ESE V,19(Parte)

Amigos, lembrai-vos deste preceito: “Amai-vos uns aos outros” e então, a um golpe desferido pelo ódio respondereis com um sorriso, e ao ultraje com o perdão. ESE XII, 12(Parte)


Alguns Espíritos já compreendem que para chegarem a Deus, uma só é a senha: Caridade.ESE XIV,9(Parte)



Deus não dá prova superior às forças daquele que a pede; só permite as que podem ser cumpridas.
ESE XIV,9(Parte)

O Deus dos cristãos classifica como virtudes primordiais o amor, a caridade, a misericórdia, o esquecimento das ofensas.
LE 1009(Parte)

Fazei o que eu fazia quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência...
LE 919ª a (Parte)

Orai sempre filhos, já vos disse: a prece é um orvalho benfazejo que deve tornar menos árida a terra seca.
RE 1862(Parte)

A prece é o orvalho divino que aplaca o calor excessivo das paixões
ESE XXVII,23(Parte)

O cristianismo plantou o estandarte da igualdade sobre a Terra, o Espiritismo arvora o da fraternidade.
RE 1862(Parte)

Orai, amai e fazeis a caridade, meus irmãos; a vinha é grande, o campo do Senhor é grande.
RE 1862(Parte)

Trabalhai, tornai-vos úteis aos vossos irmãos e a vós mesmos.
RE 1863(Parte)



Magnífico exemplo de perseverança na busca do direito, da justiça e do Amor a DEUS. Pensador profundo, seus escritos chegaram na atualidade cheios de vigor e beleza, como se tivessem sido escritos agora.



Para saber mais http://www.geocities.com/novaes01/index27.htm

" Paulo de Tarso "


Todos quantos praticam a caridade são discípulos de Jesus. ESE XV, 10 (Parte)

Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si próprio
ESE X,15 (Parte)

Gravitar para a unidade divina, eis o fim da Humanidade.
L.E 1009(Parte)

Perdoar aos amigos é dar-lhes uma prova de amizade.
ESE X,15(Parte)

Há duas maneiras bem diferentes de perdoar: há o perdão dos lábios e o perdão do coração.
ESE X,15(Parte)

Ainda que eu falasse todas as línguas dos homens e língua dos próprios anjos, se eu não tiver caridade...
ESE XV,6(Parte)


Fora da caridade não há salvação...
Nada exprime com mais exatidão o pensamento de Jesus
.
ESE XV,10(Parte)

Submetei todas as vossas ações ao governo da caridade e a consciência vos responderá.
ESE XV,10(Parte)

A caridade é paciente, é branda e benfazeja.
ESE XV,6(Parte)


A caridade não é invejosa; não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho.
ESE XV,6(Parte)

Não se rejubila com a injustiça, mas se rejubila com a verdade.
ESE XV,6(Parte)


Paulo de Tarso (nome original - Saulo) ou São Paulo, o apóstolo, (cerca de 3 – c. 66) é considerado por muitos cristãos como o mais importante discípulo de Jesus e, depois de Jesus, a figura mais importante no desenvolvimento do Cristianismo nascente. Paulo de Tarso é um apóstolo diferente dos demais. Primeiro porque ao contrário dos outros, Paulo não conheceu Jesus pessoalmente. Por outro lado, Paulo era um homem culto, frequentou uma escola em Jerusalém, tinha feito uma carreira no Templo (era Fariseu), onde foi sacerdote. Destaca-se dos outros apóstolos pela sua cultura. A maioria dos outros apóstolos eram pescadores, analfabetos.
A língua materna de Paulo era o grego. É provavel que também dominasse o aramaico.
Educado em duas culturas (grega e judaica), Paulo fez muito pela difusão do Cristianismo entre os gentios e é considerado uma das principais fontes da doutrina da Igreja. As suas Epístolas formam uma secção fundamental do Novo Testamento. Alguns afirmam que ele foi quem verdadeiramente transformou o cristianismo numa nova religião, e não mais uma seita do Judaísmo.
Foi a mas destacada figura cristã a favorecer a abolição da necessidade da circuncisão e dos estritos hábitos alimentares tradicionais judaicos. Esta opção teve a princípio a oposição de outros líderes cristãos, mas, em consequência desta revolução, a adopção do cristianismo pelos povos gentios tornou-se mais viável, ao passo que os Judeus mais conservadores, muitos deles vivendo na Europa, permaneceram fiéis à sua tradição, que não tem um móbil missionário.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_de_Tarso

Esse homem mudou minha vida. Quando em difilcudades, conheci a estrada de Damasco.

Nelson Mandela

Nelson Rolihlahla Mandela
(Qunu, 18 de julho de 1918) é um advogado, ex-líder rebelde e ex-presidente da África do Sul de 1994 a 1999. Principal representante do movimento anti-apartheid, como ativista, sabotador e guerrilheiro. Considerado pela maioria das pessoas um guerreiro em luta pela liberdade, era considerado pelo governo sul-africano um terrorista. Passou a infância na região de Thembu, antes de seguir carreira em Direito. http://pt.wikipedia.org/wiki/Nelson_Mandela

Regime do Apartheid


A África do Sul foi uma região dominada por colonizadores de origem inglesa e holandesa que, após a Guerra dos Boeres (1902) passaram a definir a política de segregação racial como uma das fórmulas para manterem o domínio sobre a população nativa. Esse regime de segregação racial - conhecido como apartheid - começou a ficar definido com a decretação do Ato de Terras Nativas e as Leis do Passe."O Ato de Terras Nativas" forçou o negro a viver em reservas especiais, criando uma gritante desigualdade na divisão de terras do país, já que esse grupo formado por 23 milhões de pessoas ocuparia 13% do território, enquanto os outros 87% das terras seriam ocupados pelos 4,5 milhões de brancos. A lei proibia que negros comprassem terras fora da área delimitada, impossibilitando-a de ascender economicamente ao mesmo tempo que garantia mão de obra barata para os latifundiários brancos.Nas cidades eram permitidos negros que executassem trabalhos essenciais, mas que viviam em áreas isoladas (guetos).As "Leis do Passe" obrigava os negros a apresentarem o passaporte para poderem se locomover dentro do território, para obter emprego.A partir de 1948, quando os Afrikaaners (brancos de origem holandesa) através do Partido Nacional assumiram o controle hegemônico da política do país, a segregação consolidou-se com a catalogação racial de toda criança recém nascida, com a Lei de Repressão ao Comunismo e com a formação dos Bantustões em 1951, que eram uma forma de dividir os negros em comunidades independentes, ao mesmo tempo em que estimulava-se a divisão tribal, enfraquecia-se a possibilidade de guerras contra o domínio da elite branca.Mesmo assim a organização de mobilizações das populações negras tendeu a crescer:em 1960 cerca de 10.000 negros queimaram seus passaportes no gueto de Sharpeville e foram violentamente reprimidos.- greves e manifestações eclodiram em todo o país, combatidas pela com o exército nas ruas.- ruptura com a Comunidade Britânica (1961)- fundada a Lança da Nação, braço armado do CNA- em 1963 Mandela foi preso e condenado a prisão perpétua. Durante a década de 70 a radicalização aumentou, tanto com os atos de sabotagem por parte da guerrilha, como por parte de governo, utilizando-se de intensa repressão.Na década de 80 o apoio interno e externo à luta contra o Apartheid se intensificaram, destacndo-se a figura de Winnie Mandela e do bispo Desmond Tutu.A ONU, apesar de condenar o regime sul-africano, não interveuo de forma efetiva, nesse sentido o boicote realizado por grandes empresas deveu-se à propaganda contrária que o comércio com a Africa do Sul representava.A partir de 1989, após a ascensão de Frederick de Klerk ao poder, a elite branca começa as negociações que determinariam a legalização do CNA e de todos os grupos contrários ao apartheid e a libertação de Mandela.

Fracasso Escolar

A primeira teorização sobre as dificuldades de aprendizagem surgiu na França, no final do século XIX, e ficou conhecida como Abordagem Organicista (Fijalkow, 1989), por investigar as causas do fracasso escolar levantando hipóteses sobre os possíveis distúrbios e doenças neurológicas do aluno. As pesquisas realizadas nessa linha de investigação promoveram uma verdadeira classificação médica dos problemas de aprendizagem. Nos dias de hoje, quando se encaminha um aluno para uma avaliação neurológica, buscando apoio na contribuição da medicina para a compreensão das dificuldades de aprendizagem, o resultado do diagnóstico aponta, geralmente, como causa do problema do escolar um quadro de dislexia, disfunção cerebral mínima (DCM) ou hiperatividade.
Moysés e Collares chamam nossa atenção para a necessidade de se fazer distinção entre a dislexia – quadro conhecido em neurologia, em que a perda do domínio da linguagem escrita pode ocorrer em conseqüência de seqüela (temporária ou definitiva) de uma patologia do sistema nervoso central – e a dislexia específica de evolução – nome da entidade patológica que foi empregada no campo de estudos dos problemas de aprendizagem da leitura e da escrita. Segundo essas autoras, a dislexia específica de evolução foi "inventada" a partir da suposição de que, se alguém que já sabe ler e escrever perde a capacidade de fazê-lo em função de uma patologia do sistema nervoso central, então, crianças que têm dificuldade em aprender ou não aprendem a ler e a escrever, possivelmente, deverão ter alguma patologia dessa ordem. Assim, a partir dessa idéia, uma das perguntas que orientou as pesquisas nessa área passou a ser: "se uma doença neurológica pode comprometer o domínio da linguagem escrita, será que a criança que não aprende a ler e escrever teria uma 'doença neurológica'?" Como você pode perceber, o conceito de "Dislexia Específica de Evolução" é proposto com base na transposição de um tipo de raciocínio, perfeitamente aplicável na área médica, para a área educacional. Porém, a pertinência dessa transposição precisa ser examinada com cuidado.
Valendo-se desse mesmo tipo de raciocínio, Strauss, um neurologista americano, lançou, em 1918, a hipótese segundo a qual os distúrbios de comportamento dos escolares e também alguns dos distúrbios de aprendizagem poderiam ser conseqüência de uma lesão cerebral mínima. Ou seja, tais distúrbios seriam em decorrência de uma lesão, suficiente para alterar o comportamento e/ou alguma função intelectual, mas mínima o bastante a ponto de não ocasionar outras manifestações neurológicas. Essa hipótese de Strauss não foi acolhida no meio científico nem divulgada, naquela época, para a sociedade. Contudo, alguns anos mais tarde, em 1957, a lesão cerebral mínima ressurge na medicina, como equivalente à síndrome hipercinética ou hiperatividade. Em 1962, durante um simpósio internacional, realizado em Oxford, com a participação de grupos de pesquisa dedicados ao estudo da lesão cerebral mínima, chegou-se à conclusão de que não havia nenhuma lesão. Vários métodos de investigação foram utilizados e não se conseguiu detectar nenhuma lesão. Os pesquisadores admitiram o erro e, para corrigi-lo, renomearam o quadro, passando a chamá-lo de disfunção cerebral mínima (DCM). A descrição das manifestações clínicas dessa nova entidade foi ampliada: hiperatividade, agressividade, distúrbio de aprendizagem, déficit de concentração, instabilidade de humor, baixa tolerância a frustrações, para citar apenas as mais divulgadas.
Várias críticas são apresentadas, atualmente, a essa abordagem do fracasso escolar e das dificuldades de aprendizagem. A abordagem Organicista é sempre citada como a grande responsável pela medicalização generalizada do fracasso escolar, pois o tratamento proposto para sanar as dificuldades de aprendizagem da criança é o uso de remédios psiquiátricos. Uma das conseqüências mais indesejada da utilização dessa abordagem é a identificação do aluno como alguém que possui uma falha orgânica, ou seja, um déficit neurológico. Ao se empregar termos como "Dislexia", "Hiperatividade" e "Disfunção Cerebral Mínima", tende-se a ver o(a) aluno(a) como o(a) "único(a) responsável" pelo seu próprio fracasso. Como conse­qüência, limita-se, assim, o campo de investigação do fracasso escolar, uma vez que outros fatores intervenientes na produção desse fenômeno são desconsiderados. A "facilidade" com que esse diagnóstico é utilizado nas escolas cria um quadro de encaminhamento para atendimento médico e prescrição medicamentosa, levando à biologização de um fenômeno da esfera escolar, produzindo gerações que acabam por se tornar conhecidas como "geração comital ou gardenal" (Vidal, 1990; Cypel, 1993).
A segunda abordagem do fenômeno do fracasso escolar surgiu a partir do desenvolvimento de pesquisas no campo da psicologia cognitiva. Trata-se da Abordagem Instrumental Cognitivista, assim designada por buscar as causas das dificuldades de aprendizagem em possíveis disfunções relativas a um dos quatro processos psicológicos fundamentais: a percepção, a memória, a linguagem e o pensamento. Segundo Sena (1999), o diagnóstico realizado utiliza-se basicamente do processo de investigação diferencial (comparando um grupo considerado normal a outro considerado atrasado) e busca identificar os seguintes sintomas: a desorganização espaço-temporal, os transtornos de lateralização, o desenvolvimento inadequado da linguagem, os transtornos perceptivos visuais e auditivos, os déficits de atenção seletiva, os problemas de memória. Fijalkow (1989), Nunes, Buarque e Bryant (1992) analisam um grande conjunto de pesquisas desenvolvidas a partir dessa perspectiva e apontam alguns problemas que precisam ser considerados ao interpretar os resultados das mesmas. Um desses problemas diz respeito, por exemplo, à não-neutralidade e à não-objetividade das situações de teste a que as crianças são submetidas, em decorrência da dificuldade de se isolar variáveis para que essas possam ser testadas independentemente uma das outras. Além disso, deve-se considerar que a abordagem cognitivista, como a abordagem organicista, procura as causas do fracasso das crianças apenas nas características individuais, desconsiderando possibilidades explicativas em outras esferas.
A Abordagem Afetiva caracteriza-se por privilegiar como explicação causal do fracasso escolar os transtornos afetivos da personalidade. Partidários dessa abordagem defendem a idéia de que as causas das dificuldades de aprendizagem devem ser buscadas em perturbações no estado socioafetivo da criança e não em supostos problemas neurológicos ou cognitivos. Nessa perspectiva, o atraso do aluno é uma manifestação de suas dificuldades originadas de algum conflito emocional (consciente ou inconsciente), cuja origem encontra-se na dinâmica familiar. Por meio da utilização do método clínico, propõe-se, primeiro, investigar se a dificuldade é de fato um problema de ordem pedagógica ou psicológica, para, posteriormente, buscar compreender porque uma determinada criança elege um determinado sintoma e não outro como expressão de suas dificuldades emocionais. Uma das críticas feitas a essa abordagem decorre do fato de que essa acaba por dar subsídios para que se responsabilize a criança e sua família por dificuldades que surgem na esfera escolar, transferindo para fora da escola – para as famílias, para as clínicas – a busca de soluções para os problemas da criança.
A abordagem denominada Questionamento da Escola reúne estudos que investigam diferentes fatores escolares como intervenientes na produção do fracasso dos alunos; dentre esses se destacam, por exemplo: a inadequação dos métodos pedagógicos, as dificuldades na relação professor-aluno, a precária formação do professor, a falta de infra-estrutura das escolas da rede pública de ensino. Segundo Sena (1999), "deslocando a questão do aluno que não aprende para a escola que não ensina" seguidores dessa abordagem propõem modificações na estrutura e organização da escola, a fim de que essa instituição cumpra seu papel social.
A abordagem do Handicap Sociocultural identifica no meio sociofamiliar a origem do fracasso das crianças na escola. Adeptos dessa abordagem consideram a bagagem sociocultural dos alunos e de seus familiares um fator decisivo, tendo em vista que a maioria dos alunos que fracassam na escola é oriunda das camadas populares. Um argumento central na articulação dessa abordagem é que essas crianças apresentam uma linguagem deficitária o que, em conseqüência, implicaria déficit cognitivo. Segundo Soares (1987), teorias do déficit cultural, lingüístico e cognitivo ocultam a verdadeira causa da discriminação das crianças das camadas populares na escola – a desigual distribuição de riqueza numa sociedade capitalista – e terminam por responsabilizar as crianças e suas famílias por suas dificuldades e isentar de responsabilidade a escola e a sociedade. De acordo com Sena (1999), "apesar do número significativo de pesquisas comprovando o caráter ideológico do discurso que fundamenta essa abordagem, ainda hoje podemos constatar como seus pressupostos estão presentes e influenciam fortemente a opinião dos profissionais da educação" sobre possíveis causas do fracasso escolar.
Elementos para o questionamento de teorias do déficit.
A breve caracterização das diferentes abordagens do fracasso escolar, apresentada acima, permite constatar que os considerados fracassados são situados em uma mera posição de objeto do conhecimento, marcados por um processo diagnóstico que, embora oscile entre oferecer como explicação causal do fracasso escolar ora uma disfunção neurológica ou cognitiva, ora um transtorno afetivo, ora problemas lingüísticos, não vacila em apontar esses sujeitos como deficitários (Santiago, 2000).
Segundo elas, os pais não têm interesse no estudo dos filhos e acabam desestimulando as crianças. “A família é a raiz da criança”. A falta de escolaridade e a profissão dos pais influenciam no desinteresse das crianças, uma vez que não têm perspectiva de futuro. As causas da indisciplina e rebeldia em sala de aula também são atribuídas ao convívio familiar atribulado e violento “cheio de brigas”, alcoolismo, banditismo. A angústia gerada por este convívio acaba explodindo na sala de aula.
É para queixar-se aos pais ou dos pais que as reuniões com eles acontecem. A expectativa em relação à presença dos pais é sempre negativa, em especial dos pais de alunos considerados problemáticos, assim direção, coordenação e professoras dizem numa só voz os pais dos alunos que precisam nunca vêm. A relação estabelecida com os pais é baseada na submissão, pois se fala aos pais, mas estes não são ouvidos.
A comparação do desempenho das crianças-alunos ocorre com freqüência nas reuniões e conseqüentemente alguns pais sentem-se mais valorizados, enquanto outros saem humilhados, cabisbaixos não se sentem no direito de perguntar, de questionar.
O relacionamento com a instituição escolar não é menos conflitante e as críticas à administração e a organização escolar aparecem com freqüência. Elas queixam-se das intromissões sofridas no trabalho em sala de aula, da falta de apoio material e pedagógico e da falta de respeito por parte da direção e coordenação que não valorizam o trabalho dos professores.

Desta forma procuram estratégias, tais como os alunos, para dar conta das frustrações daí procedentes. Estratégias que ora desqualificam os alunos e seus familiares e mesmo os seus pares, ora na busca de argumentos que disfarce erros ou enganos cometidos. Na tentativa de manter uma imagem intocável e de perfeição acabam sofrendo um enorme desgaste físico e psíquico.
Nesse processo de desqualificação e de submissão, as professoras também se sentem lesadas quando se referem à implantação da Progressão Continuada. Acreditam, elas, que a Progressão Continuada só piorou a situação educacional. Estão assustadas e preocupadas com o grande número de alunos que ainda não estão alfabetizados, mas que freqüentam a 3a ou 4a séries. A fala da diretora ilustra a opinião das professoras no tocante a esse assunto:
É um crime um aluno que não sabe ler nem escrever estar na 3a ou 4a séries, afinal são conhecimentos a serem adquiridos até a 2a série.
As professoras apresentam uma visão crítica das mudanças ocorridas no sistema educacional, mas esta parece referir-se muito mais a uma perda de controle e de poder do que realmente uma preocupação com a melhoria da qualidade do ensino, pois ao defenderem a reprovação ou a permanência do aluno na série anterior desejam um retorno a um estado de coisa, que sabemos não é a solução. Não se trata de culpabilizar os professores pelos problemas advindos dessa política, mas como responsáveis diretos, in locus, pela aprendizagem das crianças-alunos é necessário que se dêem conta de que são as pessoas mais aptas a buscarem soluções para o problema. Para além da queixa faz-se necessário que busquem alternativas coletivas, que pensem e reflitam. Claro que se torna imprescindível questionar as políticas educacionais que costumeiramente são impostas, assim como reivindicar mudanças, mas acreditar que voltando ao que era estará solucionado o problema é no mínimo um descompromisso ético com a profissão que exercem e com os sujeitos de sua ação.
Embora se mostrem conscientes da má qualidade da educação pública e da precariedade do ensino oferecido, em especial aos alunos da classe popular, assim como das condições opressivas a que estão submetidos as professoras alimentam a crença em um aluno ideal, passível de ser modelado conforme um padrão de ensino, cujo resultado determinará a condição do aluno de capaz ou incapaz. Mesmo fazendo críticas aos determinantes políticos institucionais, estas se esvanecem quando avaliam os problemas enfrentados no cotidiano da sala de aula, de forma que as justificativas acabam novamente recaindo no aluno, por sua incompetência, indisciplina ou desinteresse ou em aspectos familiares: desinteresse, pobreza ou desestruturação familiar.
É possível que o desânimo, a falta de norte, a exasperação tanto com os alunos, como com os pais e com os próprios pares são resultados da situação difícil na qual vivem diariamente, deparam-se com a falta de apoio tanto emocional, quanto de recursos pedagógicos. Há na escola, para os professores, assim como para os alunos, a ausência de um interlocutor para as suas angústias e seus medos. O professor sente necessidade de um interlocutor, é isso que ele procura quando se queixa dos alunos. De acordo com Kupfer[1] (s.d) o que está em jogo nestas queixas é o modo como os professores imaginam seu papel, e quais os discursos em torno desse papel que impedem seu exercício eficaz. Implícito em suas queixas há toda uma história de trabalho sem reconhecimento e de desorientação, sentimento de impotência e de incompetência que precisa ver clarificada (Kupfer, s.d).
A transformação do espaço pedagógico em espaço clínico (a patologização da educação)
Cecília Azevedo Lima Collares e Maria Aparecida Affonso Moysés
[1] KUPFER, Maria Cristina. O que toca à/a psicologia escolar: psicanálise na escola. s.l.; s.d. (texto mimeo).

Filme: O Elo Perdido

Jovem médico escocês Jamie Dodd (Joseph Fiennes) se aventura pela inexplorada África Equatorial na companhia da aventureira Elena Van Den End (Kristin Scott Thomas) para capturar pigmeus a fim de estudar sua estrutura corporal. De volta à cidade na companhia dos pigmeus Toko (Lomama Boseki) e Likola (Cécile Bayiha), o médico desentende-se com seus dois colegas de pesquisa quando defende que o casal de pigmeus demonstra inteligência e sentimentos humanos. Vítima da segregação dos amigos, do escárnio da comunidade científica e da crueldade humana, Jamie vê seus amigos pigmeus serem expostos no zoológico local e submetidos à humilhação.


Assisti a esse filme e verifiquei que em algum tempo atrás essa história fez parte de nossa vida, e sabem de uma coisa, ainda está presente...

Coragem

É PRECISO TER CORAGEM
CORAGEM PARA ENFRENTAR
ENFRENTAR AS LUTAS DA VIDA
ALGUMAS FÁCEIS E OUTRAS DIFÍCEIS

É PRECISO TER CORAGEM
DE ENFRENTAR TODA A VERDADE
A VERDADE QUE MACHUCA
A VERDADE QUE LIBERTA

É PRECISO TER CORAGEM
DE FALAR TODA VERDADE
DE LIVRAR A CONSCIÊNCIA DA CULPA


É PRECISO TER CORAGEM
DE OUVIR TODA VERDADE
E COM CORAGEM SABER COMPREENDER E PERDOAR

É PRECISO TER CORAGEM
NA PERDA DE ALGUÉM OU ALGO
SUPORTAR E TER DIGNIDADE
A DIGNIDADE DE ACEITAR

É PRECISO TER CORAGEM
PARA ENFRENTAR UMA DOENÇA
E COM RESIGNAÇÃO ACREDITAR
NO MILAGRE DA CURA

É PRECISO TER CORAGEM
RECONHECENDO O ERRO
APRENDER A SE CORRIGIR
TIRANDO DO ERRO UMA LIÇÃO

É PRECISO TER CORAGEM
DE ABRIR O CORAÇÃO SINCERO
MOSTRAR O QUE SENTE
DEMOSTRAR O SEU AMOR


MESMO A VIAGEM MAIS LONGA DEVE COMEÇAR PELO PRIMEIRO PASSO.
SEGUIR OU NÃO SEGUIR?
TENTAR OU NÃO TENTAR?
CORAGEM
SEM MEIOTERMO-ESCOLHA
ACREDITAR EM SI-ACEITAR
TER CORAGEM DE ASSUMIR OS ERROS
MOSTRAR O QUE SENTE DE VERDADE
O ALICERCE DA NOVA SOCIEDADE ESTÁ NA FORÇA E CORAGEM DA LIBERDADE DE SER UM NOVO HOMEM.


Temos que ter coragem para mudar.....

Avaliação

"Se a boa escola é a que reprova, o bom hospital é o que mata".
Hamilton Werneck

Quando se fala em avaliação, se imagina uma sala de aula com suas cadeiras dispostas de tal forma que parecem ter sido separadas milimetricamente com filas separadas entre pares e ímpares, sendo que um aluno não pode entrar em contato com o outro. Todos ficam posicionados como se estivessem em uma corrida, competitiva, que nos faz pensar que aquele que chega primeiro é o melhor. Alguns professores transpiram competição o tempo todo e, se pudessem, criariam verdadeiros sistemas de chegada com ganhos e perdas para todos os alunos a cada bimestre. Para estes educadores é impossível que todos aprendam. Mesmo diante de novas perspectivas, nos parece que o corpo docente que trabalha dentro das escolas no ensino básico, resiste à percepção de que a avaliação deve servir como meio de auxílio para professores e alunos. Os professores no ensino fundamental parecem estar mais abertos a novas mudanças, ou pelo menos, mais conscientes do papel das avaliações nas escolas.
Não são raros os professores que aplicam provas sem, nem ao menos prepará-las com carinho, o que incluiria o conhecimento do aluno, o preparo e as possibilidades do mesmo. O processo avaliativo não existe por si só e não pretende uma melhora na aprendizagem, mas na racionalidade e na justiça nas práticas educativas. Avalia-se não só para cumprir com uma função do professor, de manter atua-lizado o currículo do aluno mas fundamentalmente, se faz avaliação para conseguir a melhoria do processo educativo como um todo.
Mas se alguns professores economizam tempo ao prepararem suas provas, por outro lado dispendem um tempo enorme para corrigí-las e atribuir notas e conceitos ao término de cada período letivo. Isto só complica. Principalmente se tais provas são aplicadas após o término dos segmentos letivos. Pessoalmente acho que não existe maneira de avaliar um aluno apenas com um pedaço de papel onde a subjetividade do professor é que comanda tal avaliação ou, ainda, se o professor está de bem com a vida na hora da correção. Não compreendo até hoje o porquê de ter sido reprovada no 2º ano do meu antigo 2° grau. Precisaria, para passar de ano, obter uma nota 13 na minha prova de recuperação, o que era impossível. Porém foi estabelecido que conforme seriam as notas, individualmente falando, o aluno teria uma nova chance de tirar aquilo que faltasse para conseguir os pontos necessários. Estudei e cumpri meu papel de boa aluna: decorei todas as fórmulas que tinham para ser decoradas e o impossível aconteceu. Tirei uma maravilhosa nota 9, bem diferente do meu medíocre e costumeiro 1. Isto aliviou a todos, pois quem tira 9 em uma prova, conseguiria com tranqüilidade, tirar o resto que faltava, ou seja, a nota 4. A única coisa que me lembro agora é que o dia da segunda prova foi o dia mais quente do ano, era véspera de Natal, e quase todos os meus amigos estavam de férias. Fiz a prova e fui para casa. Algum tempo depois soube que estava reprovada porque uma nota 2 não seria o suficiente para passar. Não vi mais o professor, que no ano seguinte mudou de escola, e até hoje não sei onde foi que errei já que completei toda a prova. Fiquei "disparcerada" de meus colegas e até hoje detesto quando algum problema recai em uma Progressão Aritmética ou uma Progressão Geométrica, ou então em uma Análise Combinatória.
Não me preocupei mais em compreender muitas coisas, mas sim em correr atrás de meus pontos, milésimos e décimos de pontos. Assim não foi só comigo. Esta competição é travada entre todos aqueles que querem passar de ano. Principalmente na faculdade isto existe e muito. Afinal, aquele que possui uma melhor nota ou desempenho será o melhor profissional. Será?
Enfim se formos a fundo no que está errado diante dos processos avaliativos que existem, teríamos páginas e mais páginas depressivas que nos remeteriam a uma discussão sem fim. Discussão esta que está sendo feita há muito tempo por muitos especialistas. Porém o que mais me chama atenção nos textos que li, foi o medo que a grande maioria dos professores tem de mudar. São tantas as desculpas, tais como: Não temos tempo de fazer um outro tipo de avaliação. Ganhamos pouco e temos todo o tempo ocupado.
Como já citei antes, o tempo gasto nas correções de provas é imenso e tais professores não compreendem que avaliar é acompanhar o aluno desde o momento que este coloca os pés em sala de aula. Ao mesmo tempo em que o aluno é avaliado, os métodos empregados pelo professor também proporcionam uma ótima oportunidade para o professor também crescer. Uma das discussões básicas levantadas por alguns profissionais é traduzida pelo seguinte artigo que saiu no Jornal O Globo em 01/12/91, pg.18: - "Proibir a repetência é um suicídio total, uma demagogia de baixíssimo nível, incompatível com a tentativa do Brasil de sair do Terceiro Mundo. E se depois de oito anos descobrirem que o aluno é analfabeto, o que vão fazer? Matar o aluno para não comprometer a modernidade do país? Parece me que é isso que está sendo proposto." Bem, para começar, o professor não é nenhum idiota. Ele sabe quando seus alunos estão evoluindo ou estagnados; aliás, é somente ele que pode dizer isto. Sabemos da pressão por parte dos pais, mas sabemos também do poder do professor dentro de sua sala de aula e na comunidade ao seu redor. As provas cansativas, e na maioria das vezes usadas como único recurso avaliativo, devem deixar de ser usadas como redes de segurança em termos do controle exercido pelos professores sobre os alunos, pelas escolas e pelos pais sobre os professores e do sistema sobre as escolas. Controle este que parece não garantir o ensino de qualidade que viemos pretendendo, pois as estatísticas são cruéis em relação à realidade de nossas escolas.
A verdade é que tal sistema classificatório é tremendamente vago no sentido de apontar falhas no processo. Não aponta as reais dificuldades dos alunos e dos professores. Não sugere qualquer encaminhamento, porque discrimina e seleciona antes de tudo. Apenas reforça a manutenção de uma escola para poucos.
Temos que perder o medo de também sermos avaliados, não no sentido de quantidade, mas de procurarmos novos caminhos onde todos, e principalmente o governo, devam cumprir o seu papel, proporcionando ao professor uma melhor qualidade material, incluindo os salários já tão discutidos por todos. Aí sim nós, os novos professores, estaremos prontos para aprender com os erros e os acertos do antigo sistema. A saída é perder o medo de dialogar e compreender o porquê de tanta resistência a mudanças que as pessoas têm.
" SE NÃO AMO O MUNDO, SE NÃO AMO A VIDA, SE NÃO AMO OS HOMENS, NÃO ME É POSSÍVEL O DIÁLOGO." ( Freire, 1979, p. 94 ).
Maria Luciana de Oliveira

O Que é, o Que é?

Gonzaguinha Composição: Gonzaguinha

Eu fico com a pureza das respostas das criançasÉ a vida, é bonita e é bonitaViver e não tenha a vergonha de ser felizCantar (e cantar e cantar)a beleza de ser um eterno aprendizA meu Deus, eu sei, eu sei que a vida devia ser bem melhor e serámas isto não impede que eu repitaé bonita, é bonita e é bonita(simbora todos)Viver, e não ter a vergonha de ser felizCantar (e cantar e cantar) a beleza de ser um eterno aprendizeu sei que a vida devia ser bem melhor e serámas isso não impede que eu repitaé bonita, é bonita e é bonita.E a vida?e a vida o que é diga lá, meu irmão?ela é a batida de um coração?ela é uma doce ilusão?mas e a vida?ela é maravilha ou é sofrimento?ela é alegria ou lamento?o que é, o que é meu irmão?Há quem fale que a vida da genteé um nada no mundoé uma gota, é um tempoque nem dá um segundohá quem fale que é um divinomistério profundoé o sopro do criadornuma atitude repleta de amorvocê diz que é luta e prazerele diz que a vida é viverela diz que o melhor é morrerpois amada não ée o verbo sofrerEu só sei que confio na moçae na moça ponho a força da fésomos nós que fazemos a vidacomo der ou puder ou quizerSempre desejadapor mais que esteja erradaninguém quer a mortesó saude e sorteE a pregunta rodae a cabeça agitafico com a pureza da resposta das criançasé a vida, é bonita e é bonitaViver, e não ter a vergonha de ser felizCantar (e cantar e cantar) a beleza de ser um eterno aprendizeu sei que a vida devia ser bem melhor e serámas isso não impede que eu repitaé bonita, é bonita e é bonita.

Educação Moral

Texto resumo criado pela equipe pedagógica do IBEM.

A EducaçãoEntendemos a educação como sendo formadora da moral e da inteligência do homem, em outras palavras, como sendo o elemento que desenvolve toda a potencialidade existente no ser humano, por isso que compreender a educação é saber direcionar o homem no mundo.Educar é transformar.Educar é potencializar.Educar é trabalhar tanto a inteligência quanto a moral, para que o homem saiba, através da moral, o que fazer da inteligência.Compete à educação levar o homem para objetivos definidos em sua vida, em que ele tome atitudes baseadas na sua plena consciência, sabendo que não vive isolado ou apenas para si, mas numa coletividade, numa sociedade organizada em que, se tem direitos, possui também deveres.A educação do caráter gera responsabilidades.A educação moral gera seres sensibilizados, com sentimento no coração, que irão buscar o desenvolvimento da inteligência para o progresso comum.A educação é, acima de tudo:
qualidade;
trabalho interior;
floração de dentro para fora.
Educar é extrair do educando tudo aquilo que ele traz em si mesmo, na forma de potência, fazendo com que ele se revele através do que possui, exercitando a conquista de si mesmo e do conhecimento. Para educar precisamos ter educadores, ou seja, pessoas conscientes que sua atuação é de orientador, estimulador, com muito amor pela tarefa da educação e com sensibilidade para saber trabalhar as diferenças apresentadas pelos educandos. Todo educador é um estudioso da pedagogia.Professor, não se limite a cumprir um currículo dando aulas dentro de uma sala de aula. Seja, acima de tudo, um educador. Preocupa-se em ficar sempre atualizado. Respeite os estágios de desenvolvimento psicológico do educando. Integre-se na escola e saiba porque você educa. Para isso, procure inteirar-se da filosofia que rege o sistema educacional, a escola e o currículo.
O HomemO homem é um ser espiritual dotado de moral e inteligência. Tanto a moral, ou sentimento, e a inteligência, tem sua sede na alma, sendo o corpo físico um instrumento da alma. A moral e a inteligência são princípios ativos que se desenvolvem de acordo com os estímulos que a educação propicia, considerando-se a educação formal dada pela escola e pela família como a educação dada pela vida, porque o ato de viver já é um ato de educação. A vida é educação porque está plenificada numa filosofia que supera, transcende o conhecimento humano, e onde tudo é harmonia.Resumindo:
homem = ser integral { moral e inteligência } = princípios ativos desenvolvidos pela educação.
Educação = escola + família + vida.
A MoralMoral é a regra da boa conduta, da distinção que fazemos entre o que é bom e o que é ruim, para nós e para os outros, utilizando um ensino milenar daquele que se considerava Mestre: façamos aos outros somente o que queremos eles nos façam.O homem moral se preocupa com o interior para melhor equacionar o exterior. A cultura tem o valor que merece mas a conquista de virtudes é primordial. Ele valoriza a alma antes que o corpo e percebe este corpo como parte de si mesmo, que também deve ser cuidado enquanto instrumento de crescimento para a alma.A educação moral irá trabalhar com duas realidades essenciais: o bem e o mal, o que é bom e o que é ruim na formação do caráter. Este nosso enunciado pode levar muitos teóricos da educação julgarem ser necessário estabelecer o que deve ser ensinado e o que não deve ser ensinado, mas não é isso o que estamos propondo, mesmo porque tudo deve ser ensinado, ou melhor, tudo deve ser facultado ao educando conhecer, ao mesmo tempo em que, exercitando suas potencialidades morais e intelectuais, sob a orientação do educador, vai separando o joio do trigo, entendendo o que lhe faz bem ao caráter e faz bem para o próximo na sua conduta social.O educando é livre para estudar, para aprender, para conhecer, competindo ao processo da educação coordenar o ensino, levando o educando a conquistar plena consciência de si mesmo, com liberdade. Liberdade que é acompanhada de responsabilidade, pois a regra áurea da moral é fazer ao próximo o que se queira também que ele nos faça.A educação moral promove homens de bem que tirarão do papel a declaração dos direitos humanos, e só esse resultado já basta para concluirmos sobre sua fundamental importância.Exercícios constantes, individuais e sociais, devem estimular a compreensão das virtudes e sua incorporação pela criança, assim como o diálogo sobre os acontecimentos sociais que envolvem seu viver devem facultar a tomada de consciência sobre si mesma e a opção pelo bem. Dizemos opção porque a educação moral não pode ser imposta, ela deve ser adquirida, interiorizada, a partir das próprias potencialidades latentes, motivo pelo qual é uma educação de dentro para fora. É um processo lento que pede por parte do educador o acompanhamento individual tanto quanto possível, mas cujos resultados desabrocham mais tarde como as flores das sementes.Entre as virtudes, podemos destacar as seguintes:
consciência dos deveres a cumprir;
respeito aos direitos alheios;
solidariedade para com os demais;
saber trabalhar em grupo ofuscando o egoísmo;
utilizar a inteligência para o progresso coletivo;
ser humilde, compreendendo que mesmo o mais inteligente dos homens não sabe todas as coisas;
exercício da fraternidade sem preconceitos;
tolerância para com as faltas alheias porque também possuímos nossas próprias falhas;
igualdade perante a lei promovendo a justiça equilibrada;
espírito de renúncia para promover a concórdia;
honestidade nas relações sociais e familiares;
ação constante no bem.
Processo Ensino-AprendizagemNenhum processo ensino-aprendizagem é completamente válido se desvinculado da realidade prática da vida - do ponto de vista do uso da inteligência - e também da realidade fundamental da vida - do ponto de vista moral.O existir possui duas referências.Uma, imediata, que é o viver em sociedade, de acordo com as leis humanas e biológicas.Outra, não menos imediata, mas num estágio superior à primeira, nas relações morais entre os indivíduos e sua destinação futura, no reconhecimento da dualidade corpo-alma.O processo ensino-aprendizagem necessita trabalhar essas duas referências sob pena de ficar cego de uma vista, como aliás tem sido até o momento.Uma avaliação correta do processo ensino-aprendizagem só pode ser feita através da implantação de uma nova dinâmica do sistema avaliativo do educando, pois a prática intelectual e moral depende inteiramente da capacidade do educando em aplicar o conhecimento adquirido, e essa aquisição também depende dos estímulos que lhe são oferecidos.Propomos que a avaliação seja feita levando-se em conta o rendimento escolar, abolindo-se a expressão em conceitos determinados por provas, testes e exames. Essa nova dinâmica do sistema de avaliação do educando no processo ensino-aprendizagem pode ser resumida através de:
uma avaliação contínua;
verificada através dos aspectos formativos da inteligência e do caráter;
registrada em fichas de acompanhamento individual;
segundo critérios pré-estabelecidos;
feita tomando como base os objetivos da escola e do plano de curso adotado;
expressa ao término do ano letivo por um pronunciamento final que representará a análise do aproveitamento escolar em termos de crescimento potencial do educando.
Critérios BásicosEducação com Amor - a educação é um ato de amor. Cada educando é uma inteligência despertando para a vida, e mais do que isso, é uma consciência moral que desabrocha. Essa inteligência e essa consciência precisam de aceitação e compreensão, pois do contrário se ressecam, tornam-se amargas, voltam-se para a rebeldia e a maldade. Educar é amar porque a educação é a ajuda, o amparo, o estímulo. A violência - física e moral - contra o educando é um estímulo negativo que desperta as suas reações inferiores. Só o amor educa, fazendo-os crescer no bem.Educação com Exemplo - o exemplo é uma didática viva. Nossos exemplos exercem maior influência do que as nossas palavras. Ensinamos o que não fazemos e queremos que os educandos sigam nossas palavras. O psiquismo infantil é como uma janela aberta, no lar e na escola, haurindo as influências dos indivíduos à sua volta, dos organismos sociais e do ambiente, razão pela qual devemos procurar integrar pais e professores na ação educativa, pois o exemplo é a mais ampla e profunda didática que pode ser aplicada ao educando. Pais e professores que derem bons exemplos de conduta moral e de uso da inteligência para o bem comum estarão perfeitamente integrados no fim supremo da educação, que é formar o caráter, o cidadão consciente de seus deveres e dos direitos que cabem não somente a ele, mas a todos, igualmente. Façamos, portanto, aquilo que falamos, para que a teoria se transforme em prática.Educação com Experiência Própria - o educando aprende pela experiência. Quando colocado frente a uma situação real ou simulada, próxima à realidade; quando o educando se vê diante de uma situação-problema em que ele tem de encontrar a solução, então aprende a raciocinar, a analisar, a pensar e a agir. O educando não aprende decorando definições mas compreendendo conceitos. Pela prática ele compreenderá a teoria e não o inverso. O processo ensino-aprendizagem deve oferecer experiências conjugadas com a teoria, para que o educando venha a desvendar os mistérios da vida em conjugação harmônica com Deus, através da compreensão, da lógica, do bom-senso e da realidade moral do viver.
O Espírito da Educação MoralCompreendemos o espírito da educação dentro da seguinte proposta:
A educação - na escola e na família - deve ser regida por uma filosofia espiritualizante;
essa filosofia deve basear-se na visão do ser integral;
o primeiro objetivo da educação através dessa filosofia é a formação moral do educando:
o segundo objetivo da educação através dessa filosofia é a espiritualização do educando;
no esforço educacional a escola deve integrar-se com a família e a família com a escola;
compreende-se formação moral como sendo a formação do caráter do educando, através da compreensão das virtudes e sua prática;
para que se possa plenamente fazer a formação moral, o ensino deve estar conjugado com a realidade vivencial do educando;
currículo, no espírito da educação, conjugará a formação intelectual, fazendo com que a primeira discipline e oriente a segunda;
tanto quanto possível, a escola deve refletir a família;
os professores devem educar com amor, tornando-se segundos pais e mães;
lar deve ser compreendido como unidade social educadora por excelência;
as provas e testes devem ser abolidos e substituídos por uma avaliação que leve em conta o progresso contínuo do educando, seu interesse e sua vivência dos ensinos.
Não há verdadeira educação sem que os educadores estejam conscientes da filosofia que orienta o processo educacional. Se você quiser conhecer com profundidade a Educação Moral adquira a apostila O Espírito da Educação, publicada pelo IBEM, através da nossa Central de Atendimento

Carta de Ana Lúcia a Vitor, seu filho anencéfalo

(Uma indescritível carta de amor, de Ana Lúcia dos Santos Alonso Guimarães)
Cataguases - MG, 8 de dezembro de 2003.

Há oito anos, quando meu quarto filho, Vítor Alonso Guimarães, faleceu devido a ser portador de uma má-formação cerebral - anencefalia, pediram-me que relatasse numa carta os momentos que passei.
Confesso que só hoje consegui, talvez porque outras pessoas me tenham feito o mesmo pedido ou talvez porque pela falta de histórias reais e de conhecimento, muitos têm defendido o aborto de crianças com anencefalia, como se não passassem de "uma coisa" defeituosa, sem vida ou existência e que se tem de extirpar do mundo, porque inúteis para a sociedade e causadoras de sofrimento "insuportável" para os pais.
Foi a partir dessas atitudes que decidi escrever a história do Vítor - "aquele que venceu". E espero que de alguma forma contribua para os pais que passam ou que venham a passar pelo mesmo problema que passei e que tantas outras famílias também já passaram, com coragem e fortaleza divinas. Que entendam com a mesma sabedoria que foi dita, naquelas palavras do Papa João Paulo II, na Carta Salvifici Doloris de 1984:
"O sofrimento está presente no mundo para provocar amor, para fazer nascer obras de amor ao próximo, para transformar toda a civilização humana na civilização do amor".
Querido Vítor
Você não sabe como ultimamente tenho me lembrado de você. Sabe porquê? Anda em voga o assunto de se permitir o aborto em caso de anencefalia, como foi o seu, lembra-se? Você não pode imaginar as barbaridades que mamãe tem escutado de pessoas grandes, não no sentido de grandes de coração, alma e inteligência,mas só por que são bem maiores do que você era quando esteve em meu ventre por nove meses, no entanto parecem não saber de nada.
Lembra-se daquela tarde, logo depois de mamãe sair da casa do vovô Inaldo quando foi fazer a primeira ultra-sonografia, no 3° mês de gestação? Estava tão tranqüila afinal quantas e quantas ultras mamãe já havia feito quando esperava os seus irmãos, Gabriel, Marcus e Raquel. Lembro-me como se fosse hoje, deitada na cama, o médico fazendo a ultra quando, de repente, me fez aquela pergunta: -É o seu primeiro filho? Logo respondi com toda a tranqüilidade - Não. É o quarto, por quê? Vi que demorava a responder e percebi que havia algum problema com você. Indaguei novamente: - Por quê? Está tudo bem com meu filho? O que ele tem?
A resposta foi seca e dura, como alguns médicos, ainda bem que nem todos, costumam tratar dessa forma a doença dos outros. Respondeu-me: - O seu filho tem um problema, não tem cérebro. Lembro-me de que comecei a chorar e perguntei a ele, na inocência de obter uma resposta científica: - O que vou fazer agora? E mais uma vez veio a frieza que na hora a mamãe não conseguiu captar, veio aquela resposta fria: - O seu médico sabe o que você tem que fazer! Perdoe-me, filho, por não ter dado uma resposta dura e clara ao médico naquele momento, mas a mamãe não conseguiu naquele instante captar a malícia do que ele queria dizer. Com certeza queria que eu te matasse.
Lembra como foram difíceis para mamãe aquelas primeiras horas? Ligava para o obstetra e dizia que você tinha uma má formação, perguntava o que eu poderia fazer, se havia alguma cirurgia para seu caso. Mas ao contrário do médico que havia dado a primeira notícia, este já dizia com todo o carinho, o carinho que eu precisava naquele momento tão difícil. - Não, infelizmente a medicina ainda não avançou tanto. E eu chorava por mim, por você, por papai e por seus irmãos. Porque eu te queria muito. Nós te queríamos muito.
Passei a te amar mais ainda nos dias que se passaram, por que fui entendendo coisas que até então não sabia. Conversei com o obstetra e ele então me explicou como seria essa "gestação especial". Enquanto estivesse comigo, dentro de mim, você estaria seguro, tranqüilo. Hoje entendo por que você não precisava de uma nova contribuição da mamãe para "ser", você já existia, já era um ser humano existente, já era meu filho. Você só precisava crescer, suas próximas fases seriam de autocrescimento, de desenvolver o que você já "era". Nos próximos meses a única coisa que mamãe teria de fazer e que você precisava como qualquer criança era de nutrição, oxigênio e o tempo. O seu tempo.
Você sabe o quanto foi difícil, saber que não te teria nos meus braços por muito tempo depois que você nascesse. Mas logo resolvi a questão, perguntei ao médico qual o máximo de tempo que poderia ter você em mim, e ele respondeu de 38 a 40 semanas. Logo eu tinha pelo menos 38 semanas para estar muito perto de você, te amando. Lembra-se dos beijinhos que o papai, o Gabriel, o Marcos e a Rachel davam na minha barriga para você? Lembra-se de nós todos rezando todas as noites pedindo para você ficar "bom do dodói", pois era assim que eu explicava para os seus irmãos o seu problema. E foi assim que os dias se passaram e no lugar da tristeza, entrou a alegria de ter você perto de nós, pelo tempo que Deus quisesse e fomos muito felizes.
Você nem pode imaginar quantas coisas mamãe tem ouvido das pessoas que tem cérebro. Outro dia mamãe ouviu uma pessoa dizer que matar uma criança assim não era aborto, pois esse feto já era um aborto da natureza. É, filho, as pessoas falam coisas absurdas, monstruosas. Parecem não usar o cérebro completo e perfeito que receberam de Deus. Outras defendem a idéia de que não haveria crime, caso praticassem um aborto cujo feto tivesse anencefalia, pois não haveria vida viável. Defendem essa teoria como se o ser que mexe, cujo coração bate dentro do útero materno já estivesse morto.
Não sabem o quanto vocês mexem e crescem até o dia de nascerem. Parecem não querer saber que aos sessenta dias vocês, que um dia fomos nós, estão quase terminados: mãos, pés, cabeça, órgão, tudo já existe e está no seu lugar, é só desenvolver, o que não será impedido de acontecer nem mesmo pela má-formação cerebral. Meu filho, você não sabe do que são capazes de falar e fazer essas pessoas que tem cérebro, essas pessoas grandes. Alguns têm a coragem de dizer que o que matam é o nada, sem saber que o que existe e vive no ventre materno desde a concepção é um sujeito humano concreto, único e irrepetível.
Lembra-se filho quando mensalmente mamãe ia ao médico, para acompanhar a sua gestação e eu escutava o seu coração batendo forte dentro de mim? (140 batidas/minutos). E o quanto era bom saber que você estava ali. Não podia eu dizer que você era uma parte minha, pois desde a concepção você já existia com um código geneticamente diferenciado, original em relação ao meu. Como podem algumas pessoas dispor do que não lhes pertence?
Sabe que outro dia mamãe leu em um jornal que se autorizava um aborto liminarmente, sendo que o feto tinha um problema igual ao seu, anencefalia e que o que fundamentava essa decisão era que "não se podia impor à gestante o insuportável fardo de ao longo de meses prosseguir na gravidez já fadada ao insucesso". Você não acredita? Mas é verdade, estava escrito, chamavam um filho como se fosse fardo insuportável, parecem não saber que filho nunca é fardo, muito menos insuportável. Parecem não ter a menor idéia do quanto vocês são amados apesar dessa deficiência, ou melhor dizendo, má-formação. E o quanto são importantes para nós, mães de verdade, cuja natureza intrínseca da mulher nos faz.
Até no reino animal, que não tem o uso da razão, as fêmeas protegem os seus filhotes. Será que podemos ainda chamar a nossa natureza de humana, depois do que andamos pensando, concedendo ou defendendo? Talvez você não saiba Vítor, mas hoje em dia as pessoas querem tirar, eliminar, "matar" de suas vidas tudo o que lhes traga incômodo ou sofrimento. É a sociedade do prazer, do belo, do confortável, do extremo egoísmo. Eliminam-se pessoas como se fossem coisas.
Alguns até defendem que esse aborto deve ser autorizado porque a má-formação da qual o feto é portador é incompatível com a vida pós-natal. Todos nós sabemos que em qualquer gravidez, existe uma margem de possibilidade de que a criança nasça com alguma deformidade, às vezes congênita, às vezes em conseqüência do próprio parto, e se for por causa desse risco que há em qualquer gravidez, seja na do rico, seja na do pobre, dessem aos pais o direito de suprimir essa vida, estaríamos perante o direito incondicional ao aborto, pois o aborto é a morte de um ser humano vivo e inocente, assim ou se está a favor da vida ou não se está.
E o tempo foi passando não é, filho, e aquele ser pequeno que existia em mim, já estava grande e pronto para nascer. Lembra-se que mamãe também sofreu muito quando estava chegando o dia do parto? É que eu sabia que o tempo de ficarmos juntos agora se tornava mais curto, não ficaríamos mais tão próximos como estávamos. Você tinha que nascer e seguir o seu caminho, o caminho que Deus-Pai havia traçado para você desde toda a eternidade. Nunca chorei de revolta, você sabe disso. Chorava de saudade, a mesma saudade que a mãe sente quando o filho se casa e vai embora, era a saudade natural de rompermos os laços com os filhos, às vezes mais cedo, outras mais tarde. Mas, nós seres humanos não somos, por mais que estejamos tentando ser, "Aquele que é". Somente Deus é Aquele que é - só Ele pode dar o ser a outros e somente Ele pode tirar a existência desse ser, fazendo sua história mais curta ou mais longa, mas todos fazemos história e ninguém tem o direito de interromper a história de vida de outra pessoa.
Você fez a sua história de Vida, fez a nossa história de vida, você até hoje é lembrado pelos seus irmãos. Sabia que muitas vezes a Raquel com apenas três aninhos, me perguntava quem tomava conta de você no céu? E aquela outra vez que estávamos eu e seus irmãos esperando em frente ao prédio onde morávamos a Kombi Escolar do seu Júlio, dias depois que você faleceu e o Gabriel com apenas quatro aninhos estava perto de mim, junto com a Raquel e o Marcos. De repente surge um senhor e me pergunta: - São seus filhos? - Sim, respondi. E ele novamente perguntou: - Você tem três filhos?: - São todos seus? - Sim respondi, tenho três filhos. O senhor foi embora, afinal era só curiosidade. Mas o seu irmão Gabriel olhou para mim e disse: - Por que você mentiu para ele? Na hora não entendi o que o seu irmão tão pequeno queria dizer e resolvi perguntar por que eu havia mentido para aquele senhor. Foi quando ele disse com toda a naturalidade e sentimento de família: - Você não tem três filhos, você tem quatro, por acaso esqueceu do Vitor que está no Céu?
Confesso que fiquei desconcertada naquele momento, pois é evidente que não havia esquecido você, afinal tinha poucos dias que você havia nos deixado. Tentei explicar a ele por que havia dado aquela resposta ao senhor, por que havia dito três ao invés de quatro, expliquei-lhe que a mamãe não havia mentido, apenas se reservado, afinal se dissesse quatro filhos, ele perguntaria onde ele estava e eu teria que falar toda a história para alguém que não conhecia. E assim expliquei ao Gabriel que às vezes devemos manter nossa privacidade. Mas ao mesmo tempo, depois daquele questionamento aprendi uma lição. Aprendi que seus irmãos tinham em você alguém muito presente, alguém que fazia parte daquela família, mesmo não estando ali entre nós e passei a dar a resposta que ele queria quando me perguntavam quantos filhos eu tinha. Dizia: - Tenho quatro, um faleceu. Hoje eu digo: - Tenho seis, um faleceu, pois após você vieram a Catarina e a Maria Teresa. Pronto estava resolvido o que incomodava o seu irmão. E ele, seu irmão, estava certo com apenas quatro anos de idade, porque você Vitor não era alguém que tinha passado pelas nossas vidas, você fazia parte dela, você era um pedaço de nossa história e eu não tinha que te esconder. Mas você sabe que nenhum de nós jamais te esqueceu.
E eis que chegou o grande dia. Era o dia de você nascer, mamãe e papai foram juntos para o hospital às 21:00 horas. Enquanto esperávamos os médicos chorávamos muito os dois, porque sabíamos que estava próximo a nossa separação. Mas você, já sabia que mamãe havia preparado o melhor para você durante os nove meses em que estivemos juntos, escolheu todos os médicos que iriam te dar todo o carinho que você precisaria e que eu não poderia dar naquele momento. Conversei com Dr. Dernival para que batizasse você ainda na sala de parto, eu queria te dar tudo que uma mãe quer para um filho, a Eternidade. Um pouco antes de entrar no Centro Cirúrgico ele ainda me perguntou: - Como ele se chamará? - Vítor, respondi com firmeza, vindo depois, a saber, que o seu nome significava "aquele que venceu" e você venceu mesmo!
Chorei muito quando recebi a notícia no dia seguinte pela manhã, pois você havia nascido às 23:50 hs e eu estava sedada, mas lembro-me que mesmo sonolenta perguntei ao Dr. Fernando ( seu neonatologista), pessoa tão especial e humana, como você estava e apaguei ouvindo ao longe a resposta que você não estava muito bem. Doce Dr. Fernando quis poupar-me, você já havia morrido e ele havia ficado os 40 minutos de sua vida de mãos dadas com você, não te deixou sozinho nem um instante. O dia seguinte, ainda sem saber que você já era mais um anjo no céu, seu pai não me dava a notícia, pois o médico, havia pedido para que retardasse a mesma. E eu inocente via o seu pai chorar no quarto e brigava com ele para que fosse ver como você estava passando, ele simplesmente levantava da cadeira chorando, sem nada me dizer.
A notícia de sua morte me foi dada por um grande amigo nosso, sacerdote. Amigo de todas as horas difíceis de nossa vida, aquela pessoa que quando morrer, mesmo sem ser conhecida por todos, a Terra ficará diminuída porque a humanidade toda sentirá o peso de sua partida, assim como foi com Madre Teresa de Calcutá, assim como será com João Paulo II. São seres tão especiais que a morte deles nos diminui um pouco e nos faz refletir o quanto temos de trabalhar e fazer pela humanidade. Mas até nisso Deus pensou em mim, em quem me daria a notícia que iria doer tanto. Chorei muito, como nunca havia chorado antes na vida, era uma dor que não passava, parecia roer os meus ossos, o meu coração parecia que estava sendo arrancado do meu peito. Lembro-me e jamais esquecerei que num segundo fui inundada por uma paz interior, que jamais havia sentido antes, era um carinho de Deus pelo dever cumprido, quase um "consumatum est". Havíamos cumprido a nossa função de deixarmos você fazer a sua história e parte de nossa história.
E algumas horas depois recebi autorização do médico para numa cadeira de rodas, descer até a capela do hospital para dar o meu beijo em você, aquele que eu tanto esperava. Peguei-te nos meus braços e olhei com detalhes para você já de toquinha na cabeça. Era lindo demais. Seu nariz, sua boquinha, seus olhos, suas orelhinhas, suas mãos tão pequenas e delicadas, sua unha tão pequenina, era perfeito. É um momento que jamais vou esquecer. Dei-te um beijo suave na testa enquanto a lágrima corria, como corre agora, neste momento em que relembro o passado, e vejo de uma forma viva e clara o seu rosto sereno, angelical, porque você já estava no céu. Essa certeza eu tinha, pois você havia recebido o sacramento do Batismo antes de morrer. E não demorei muito ali porque todo o meu amor e carinho de mãe e de ser humano eu tinha te dado enquanto você esteve vivo no meu ventre, fazendo-me te amar a cada dia e respeitar você.
Vítor, meu filho, como você nos ensinou durante os nove meses que sofrimento não mata, mas ensina e faz crescer, nos torna mais gente e humano. Como sou grata a você por ter tido a chance de viver essa história, de ser forte porque você estava comigo. E como todo cidadão que nasce, também perante a sociedade que cobra atitudes tão contraditórias, você teve sua certidão de nascimento e certidão de óbito, porque respirou 40 minutos após nascer. E porque fez parte da história não só da nossa família, mas de toda a humanidade, você ganhou até um poema do vovô Inaldo, poema este publicado no livro de Outonos, em 2001 intitulado Elegia para o neto efêmero - Vítor Alonso Guimarães, poema suave e profundo como sua história de vida.
Há muitos anos algumas pessoas pediram para que mamãe colocasse sua história de vida num papel, agora tenho realmente que colocar, pois ando escutando pessoas grandes falarem de vocês, seres tão pequenos, coisas falsas, verdades infundadas, utilizando estatísticas sabe-se lá Deus de onde tiram. Defendem o aborto porque dizem que neste tipo de gravidez, a mãe corre risco de vida. Talvez não saibam que essa gravidez causa o mesmo risco que uma pessoa que pegue uma gripe venha a desenvolver uma pneumonia. Na verdade filho, não sei se não sabem ou se por comodismo ou modismo não querem saber a verdade dos fatos. Isso não é estatístico. Que é mais provável que essa mãe morra de bala perdida, atropelada pelas ruas da cidade, cujos cidadãos não respeitam as leis de trânsito, do que da gravidez em si. Isso é estatístico. Por isso mamãe resolveu contar a sua história, para que outras pessoas saibam que existe uma outra maneira de ver e de viver a vida, que não existe sofrimento insuportável e como dizia um autor cujo nome agora não me recordo "A dor sempre traz consigo uma mensagem e uma revelação. Não existem sofrimentos inúteis".
Sabe Vítor, li certa vez em um livro, em que um pai escrevia cartas para uma filha portadora da síndrome de Down, uma coisa muito bonita. Ele dizia que "Umas almas encarnam em corpos defeituosos que têm de viver com problemas mais ou menos visíveis e algumas até se alojam em seres com cérebros malformados, que limitam, como montanhas intransponíveis, os seus meios de expressão. Mas estas últimas são tão perfeitas quanto as outras almas, e o seu Anjo da Guarda recebeu uma missão mais importante do que a dos anjos restantes: não só deve tutelá-las constantemente, mas também proceder inicialmente a uma seleção dos pais que hão de ser, dia após dia, seus colaboradores para ajudar esse filho a realizar ações prejudicadas pela sua incapacidade". E é assim que me sinto com relação a você, uma privilegiada por ter sido escolhida para ser mãe de uma criança como você, que mesmo que vivendo tão pouco ensinou tanto para mim, para seu pai e seus irmãos.
Não gosto quando me chamam de heroína por ter levado a sua gestação até o fim, as mães que assim procedem não são heroínas, são só mães. A cada dia a ciência avança, descobre novidades, e aquilo que há alguns anos era perigo de vida para as mães, hoje são facilmente resolvidos face aos avanços de conhecimento gerais, científicos e tecnológicos. Acho que haverá um dia em que casos como o seu exigirão lutar pela vida e não pela morte. Os médicos falam que embora muito se saiba hoje sobre o cérebro, muito mais ainda tem que se saber, ainda há muito por descobrir.
Enganam-se aqueles que acham que nascido o feto, completo e perfeito tudo deu certo. O homem nunca está terminado, nesse momento deverá começar uma nova luta mais difícil e sofrida do que a de uma gravidez como da mamãe. É a tarefa de fazer este ser pequenino que nasceu, transformar-se num homem de verdade, num ser capaz de contribuir para uma sociedade justa, em defesa da vida, em defesa da verdade. E com certeza enquanto os homens julgarem-se no direito de dizer quem deve morrer, quem deve viver e quando isso se dará estaremos longe de sermos uma sociedade justa e muito menos humana.
Querido Vítor, acho que está na hora de terminarmos esta nossa conversa, afinal, você conhece a mamãe, ela fala demais. Meu anjinho, não se preocupe com as notícias que te dei, assim como existem pessoas fracas, intransigentes, existem pessoas cheias de amor de Deus no coração e essas pessoas estão sempre juntas para defender e esclarecer aos que se acham donos do bem e do mal, o quanto vocês seres tão pequeninos são seres humanos únicos e irrepetíveis. Você sim, não tem mais o que aprender, já conheceu todos os mistérios de Deus, já entendeu o porquê de sua história, por ter sido curta e ao mesmo tempo tão grandiosa.
E não se preocupe com as lágrimas que mamãe e papai derramaram, consolei-me quando li em um livro de Antônio Orozco, OS TRÊS SÓIS: a Sagrada Família - Editora Quadrante, que dizia: "às vezes, encontramo-nos mergulhados num mar de lágrimas... E o mar absorve-as, sem que consigam enchê-lo. Parece que se perdem inúteis, estéreis, estúpidas. Mas não. Todas as lágrimas vão parar no coração de Deus-Pai...".
Um beijo da mamãe.
Ana Lúcia

domingo, setembro 24, 2006

Bicho de Sete Cabeças




Um maravilhoso filme com Rodrigo Santoro

Sr. Wilson e seu filho Neto possuem um relacionamento difícil, com um vazio entre eles. O pai despreza o mundo do filho e este não suporta a presença do pai. Neto fuma maconha, picha muros, e é hostilizado por seu pai, que o interna num manicômio depois de achar um baseado no casaco do filho. Achando que estava tomando a atitude correta, pois não queria que o filho estampasse as páginas dos jornais policiais, o pai mantém Neto internado, mesmo com os desesperados relatos do filho. Os próprios funcionários passavam bebidas para os internos. Neto tomava choques elétricos e era trancado numa sala escura e isolada.
Numa das visitas dos pais, ele pediu que o levassem para casa, e foi atendido. Arrumou um emprego de vendedor de planos de saúde,mas sentiu dificuldades em realizar o trabalho. Ao visitar um antigo amigo, teve sua presença na casa negada pela mãe do rapaz que não queria que o filho andasse com um ex-drogado. Em determinado momento ele teve uma recaída e voltou a beber e usar drogas regressando ao manicômio. Passou por tudo outra vez. Quando seu pai foi visitá-lo ele entregou um bilhete que dizia: “eu sou menor que você, seu mundo aí fora é demais para mim”. Ficando clara a diferença de seus mundos.
Esse filme revela também , que muitas pessoas são mantidas em manicômios somente para que a verba destinada ao tratamento seja maior. Pessoas que nem estão doentes viram fonte de dinheiro para médicos, diretores e funcionários mal-intencionados. Numa cena do filme, o médico recebe um telefonema que deixa isso bem claro.
O filme faz verdadeiras denúncias contra os manicômios brasileiros. Atira sem piedade no moralismo e na hipocrisia e é um retrato perfeito da juventude brasileira, completamente perdida num país desigual.

Filme:Daens

O filme é passado na virada do século, no norte da Bélgica, em plena Revolução Industrial. A história é desenvolvida em torno da vida dos trabalhadores de uma fábrica de tecidos, na cidade de Aalst. Naquele momento as pessoas estavam condenadas a um estado de miséria absoluta. A imagem da exploração de crianças e mulheres nas fábricas é o ponto alto da trama. A vida da sociedade local passa a ter uma nova direção com a chegada de Daens, um padre revolucionário que se muda para a cidade e vai morar na casa de seu irmão jornalista.
Um filme imperdível.



A Importância do Ato de Ler - Paulo Freire

Rara tem sido a vez, ao longo de tantos anos de prática pedagógica, por isso política, em que me tenho permitido a tarefa de abrir, de inaugurar ou de encerrar encontros ou congressos.
Aceitei fazê-lo agora, da maneira, porém, menos formal possível. Aceitei vir aqui para falar um pouco da importância do ato de ler.
Me parece indispensável, ao procurar falar de tal importância, dizer algo do momento mesmo em que me preparava para aqui estar hoje; dizer algo do processo em que me inseri enquanto ia escrevendo este texto que agora leio, processo que envolvia uma compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. Ao ensaiar escrever sobre a importância do ato de ler, eu me senti levado - e até gostosamente - a “reler” momentos fundamentais de minha prática, guardados na memória, desde as experiências mais remotas de minha infância, de minha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão crítica da importância do ato de ler se veio em mim constituindo.
Ao ir escrevendo este texto, ia “tomando distância” dos diferentes momentos em que o ato de ler se veio dando na minha experiência existencial. Primeiro, a “leitura” do mundo, do pequeno mundo em que se movia; depois, a leitura da palavra que nem sempre, ao longo de minha escolarização, foi a leitura da “ palavra mundo ”.
A retomada da infância distante, buscando a compreensão do meu ato de “ler” o mundo particular em que me movia - e até onde não sou traído pela memória -, me é absolutamente significativa. Neste esforço a que me vou entregando, re-crio, e re-vivo, e no texto que escrevo, a experiência vivida no momento em que ainda não lia a palavra. Me vejo então na casa mediana em que nasci, no Recife, rodeada de árvores, algumas delas como se fossem gente, tal a intimidade entre nós - à sua sombra brincava e em seus galhos mais dóceis à minha altura eu me experimentava em riscos menores que me preparavam para riscos e aventuras maiores. A velha casa, seus quartos, seu corredor, seu sótão, seu terraço - o sítio das avencas de minha mãe -, o quintal amplo em que se achava, tudo isso foi o meu primeiro mundo. Nele engatinhei, balbuciei, me pus de pé, andei, falei. Na verdade, aquele mundo especial se dava a mim como o mundo de minha atividade perceptiva, por isso mesmo como o mundo de minhas primeiras leituras. Os “textos”, as “palavras”, as “letras” daquele contexto - em cuja percepção me experimentava e, quanto mais o fazia, mais aumentava a capacidade de perceber - se encarnavam numa série de coisas, de objetos, de sinais, cuja compreensão eu ia apreendendo no meu trato com eles nas minhas relações com meus irmãos mais velhos e com meus pais.
Os “textos”, as “palavras”, as “letras” daquele contexto se encarnavam no canto dos pássaros - o do sanhaçu, o do olho-pro-caminho-quem-vem, o do bem-te-vi, o do sabiá; na dança das copas das árvores sopradas por fortes ventanias que anunciavam tempestades, trovões, relâmpagos; as águas da chuva brincando de geografia: inventando lagos, ilhas, rios, riachos. Os “textos”, as “palavras”, as “letras”, daquele contexto se encarnavam também no assobio do vento, nas nuvens do céu, nas suas cores, nos seus movimentos; na cor das folhagens, na forma das folhas, no cheiro das flores - das rosas, dos jasmins -, no corpo das árvores, na casca dos frutos. Na tonalidade diferente de cores de um mesmo fruto em momentos distintos: o verde da manga-espada, o verde da manga-espada inchada; o amarelo esverdeado da mesma manga amadurecendo, as pintas negras da manga mais além de madura. A relação entre estas cores, o desenvolvimento do fruto, a sua resistência à nossa manipulação e o seu gosto. Foi nesse tempo, possivelmente, que eu, fazendo e vendo fazer, aprendi a significação da ação de amolegar.

Daquele contexto faziam parte igualmente os animais - os gatos da família, a sua maneira manhosa de enroscar-se nas pernas da gente, o seu miado, de súplica ou de raiva; Joli, o velho cachorro negro de meu pai, o seu mau humor, toda vez que um dos gatos incautamente se aproximava demasiado do lugar em que se achava comendo e que era seu - “estado de espírito”, o de Joli, em tais momentos, completamente diferente do de quando quase desportivamente perseguia, acuava e matava um dos muitos timbus responsáveis pelo sumiço de gordas galinhas de minha avó.
Daquele contexto - o do meu mundo imediato - fazia parte, por outro lado, o universo da linguagem dos mais velhos, expressando as suas crenças, os seus gostos, os seus receios, os seus valores. Tudo isso ligado a contextos mais amplos que o do mundo imediato e de cuja existência eu não podia sequer suspeitar.
No esforço de re-tomar a infância distante, a que já me referi, buscando a compreensão do meu ato de ler o mundo particular em que me movia, permitam-me repetir, re-crio, re-vivo, no texto que escrevo, a experiência vivida no momento em que ainda não lia a palavra. E algo que me parece importante, no contexto geral de que venho falando, emerge agora insinuando a sua presença no corpo destas reflexões. Me refiro a meu medo das almas penadas cuja presença entre nós era permanente objeto das conversas dos mais velhos, no tempo de minha infância. As almas penadas precisavam da escuridão ou da semi-escuridão para aparecer, das formas mais diversas - gemendo a dor de suas culpas, gargalhando zombeteiramente, pedindo orações ou indicando esconderijos de botijas. Ora, até possivelmente os meus sete anos, o bairro do Recife onde nasci era iluminado por lampiões que se perfilavam, com certa dignidade, pelas ruas. Lampiões elegantes que, ao cair da noite, se “davam” à vara mágica de seus acendedores. Eu costumava acompanhar, do portão de minha casa, de longe, a figura magra do “acendedor de lampiões” de minha rua, que vinha vindo, andar ritmado, vara iluminadora ao ombro, de lampião a lampião, dando luz à rua. Uma luz precária, mais precária do que a que tínhamos dentro de casa. Uma luz muito mais tomada pelas sombras do que iluminadora delas.
Não havia melhor clima para peraltices das almas do que aquele. Me lembro das noites em que, envolvido no meu próprio medo, esperava que o tempo passasse, que a noite se fosse, que a madrugada semiclareada viesse chegando, trazendo com ela o canto dos passarinhos “manhecedores”.
Os meus temores noturnos terminaram por me aguçar, nas manhãs abertas, a percepção de um sem-número de ruídos que se perdiam na claridade e na algazarra dos dias e que eram misteriosamente sublinhados no silêncio fundo das noites.
Na medida, porém, em que me fui tornando íntimo do meu mundo, em que melhor o percebia e o entendia na “leitura” que dele ia fazendo, os meus temores iam diminuindo.
Mas, é importante dizer, a “leitura” do meu mundo, que me foi sempre fundamental, não fez de mim um menino antecipado em homem, um racionalista de calças curtas. A curiosidade do menino não iria distorcer-se pelo simples fato de ser exercida, no que fui mais ajudado do que desajudado por meus pais. E foi com eles, precisamente, em certo momento dessa rica experiência de compreensão do mundo imediato, sem que tal compreensão tivesse dignificado malquerenças ao que ele tinha de encantadoramente misterioso, que eu comecei a ser introduzido na leitura da palavra. A decifração da palavra fluía naturalmente da “leitura” do mundo particular. Não era algo que se estivesse dando superpostamente a ele. Fui alfabetizado no chão do quintal de minha casa, à sombra das mangueiras, co palavras do meu mundo e não do mundo maior dos meus pais. O chão foi o meu quadro-negro; gravetos, o meu giz.
Por isso é que, ao chegar à escolinha particular de Eunice Vasconcelos, cujo desaparecimento recente me feriu e me doeu, e a quem presto agora uma homenagem sentida, já estava alfabetizado. Eunice continuou e aprofundou o trabalho de meus pais. Com ela, a leitura da palavra, da frase, da sentença, jamais significou uma ruptura com a “leitura” do mundo. Com ela, a leitura da palavra foi a leitura da “palavramundo”.

Há pouco tempo, com profunda emoção, visitei a casa onde nasci. Pisei o mesmo chão em que me pus de pé, andei, corri, falei e aprendi a ler. O mesmo mundo - primeiro mundo que se deu à minha compreensão pela “leitura” que dele fui fazendo. Lá, re-encontrei algumas das árvores da minha infância. Reconheci-as sem dificuldade. Quase abracei os grossos troncos - os jovens troncos de minha infância. Então, uma saudade que eu costumo chamar de mansa ou de bem comportada, saindo do chão, das árvores, da casa, me envolveu cuidadosamente. Deixei a casa contente, com a alegria de quem re-encontra gente querida.
Continuando neste esforço de “re-ler” momentos fundamentais de experiências de minha infância, de minha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão crítica da importância do ato de ler se veio em mim constituindo através de sua prática, retomo o tempo em que, como aluno do chamado curso ginasial, me experimentei na percepção crítica dos textos que lia em classe, com a colaboração, até hoje recordada, do meu então professor de língua portuguesa.
Não eram, porém, aqueles momentos puros exercícios de que resultasse um simples dar-nos conta da existência de uma página escrita diante de nós que devesse ser cadenciada, mecânica e enfadonhamente “soletrada”, em vez de realmente lida. Não eram aqueles momentos “lições de leitura”, no sentido tradicional desta expressão. Eram momentos em que os textos se ofereciam à nossa inquieta procura, incluindo a do então jovem professor José Pessoa. Algum tempo depois, como professor também de português, nos meus vinte anos, vivi intensamente a importância do ato de ler e de escrever, no fundo indicotomizáveis, com alunos das primeiras séries do então chamado curso ginasial. A regência verbal, a sintaxe de concordância, o problema da crase, o sinclitismo pronominal, nada disso era reduzido por mim a tabletes de conhecimentos que devessem ser engolidos pelos estudantes. Tudo isso, pelo contrário, era proposta à curiosidade dos alunos de maneira dinâmica e viva, no corpo mesmo dos textos, ora de autores que estudávamos ora deles próprios, como objetos a ser desvelados e não como algo parado, cujo perfil eu descrevesse. Os alunos não tinham que memorizar mecanicamente a descrição do objeto, mas apreender a sua significação profunda. Só apreendendo-a seriam capazes de saber, por isso, de memorizá-la, de fixá-la. A memorização mecânica da descrição do objeto não se constitui em conhecimento do objeto. Por isso é que a leitura de um texto, tomado como pura descrição de um objeto e feita no sentido de memorizá-la, nem é real leitura nem dela, portanto, resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala.
Creio que muito de nossa insistência, enquanto professoras e professores, em que os estudantes “leiam”, num semestre, um sem-número de capítulos de livros, reside na compreensão errônea que às vezes temos do ato de ler. Em minha andarilhagem pelo mundo, não foram poucas as vezes em que jovens estudantes me falaram de sua luta às voltas com extensas bibliografias a ser muito mais “devoradas” do que realmente lidas ou estudadas. Verdadeiras “lições de leitura” no sentido mais tradicional desta expressão, a que se achavam submetidos em nome de sua formação científica e de que deviam prestas contas através do famoso controle de leitura. Em algumas vezes cheguei mesmo a ler, em relações bibliográficas, indicações em torno de que páginas deste ou daquele capítulo de tal ou qual livro deveriam ser lidas: “Da página 15 à 37”.
A insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramento dos textos a ser compreendidos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão que urge ser superada. A mesma, ainda que encarnada desde outro ângulo, que se encontra, por exemplo, em quem escreve, quando identifica a possível qualidade de seu trabalho, ou não, com a quantidade de páginas escritas. No entanto, um dos documentos filosóficos mais importantes de que dispomos, As teses sobre Feuerbach, de Marx, tem apenas duas páginas e meia...
Parece importante, contudo, para evitar uma compreensão errônea do que estou afirmando, sublinhar que a minha crítica à magicização da palavra não significa, de maneira alguma, uma posição pouco responsável da minha parte com relação à necessidade que temos educadores e educandos de ler, sempre e seriamente, de ler os clássicos neste ou naquele campo do saber, de nos adentrarmos nos textos, de criar uma disciplina intelectual, sem a qual inviabilizamos a nossa prática de professores e estudantes.

Dentro ainda do momento bastante rico de minha experiência como professor de língua portuguesa, me lembro, tão vivamente quanto se ela fosse de agora e não de um ontem bem remoto, das vezes em que me demorava na análise de textos de Gilberto Freyre, de Lins do Rego, de Graciliano Ramos, de Jorge Amado. Textos que eu levava de casa e que ia lendo com os estudantes, sublinhando aspectos de sua sintaxe estritamente ligados ao bom gosto de sua linguagem. Àquelas análises juntava comentários em torno de necessárias diferenças entre o português de Portugal e o português do Brasil.
Venho tentando deixar claro, neste trabalho em torno da importância do ato de ler - e não é demasiado repetir agora -, que meu esforço fundamental vem sendo o de explicitar como, em mim, aquela importância vem sendo destacada. É como se eu estivesse fazendo uma “arqueologia” de minha compreensão do complexo ato de ler, ao longo de minha experiência existencial. Daí que eu tenha falado de momentos de minha infância, de minha adolescência, dos começos de minha mocidade e termine agora re-vendo, em traços gerais, alguns dos aspectos centrais da proposta que fiz no campo da alfabetização de adultos há alguns anos.
Inicialmente me parece interessante reafirmar que sempre vi a alfabetização de adultos como um ato político e um ato de conhecimento, por isso mesmo, como um ato criador. Para mim seria impossível engajar-me num trabalho de memorização mecânica dos ba-be-bi-bo-bu, dos la-le-li-lo-lu. Daí que também não pudesse reduzir a alfabetização ao ensino puro da palavra, das sílabas ou das letras. Ensino em cujo processo o alfabetizador fosse “enchendo” com suas palavras as cabeças supostamente “vazias” dos alfabetizandos. Pelo contrário, enquanto ato de conhecimento e ato criador, o processo de alfabetização tem, no alfabetizando, o seu sujeito. O fato de ele necessitar da ajuda do educador, como ocorre em qualquer relação pedagógica, não significa dever a ajuda do educador anular a sua criatividade e a sua responsabilidade na construção de sua linguagem escrita e na leitura desta linguagem. Na verdade, tanto o alfabetizador quanto o alfabetizando, ao pegarem, por exemplo, um objeto, como faço agora com o que tenho entre os dedos, sentem o objeto, percebem o objeto sentido e são capazes de expressar verbalmente o objeto sentido e percebido. Como eu, o analfabeto é capaz de sentir a caneta, de perceber a caneta, de dizer caneta, mas também de escrever caneta e, conseqüentemente, de ler caneta. A alfabetização é a criação ou a montagem da expressão escrita da expressão oral. Esta montagem não pode ser feita pelo educador para ou sobre o alfabetizando. Aí tem ele um momento de sua tarefa criadora.
Creio desnecessário me alongar mais, aqui e agora, sobre o que tenho desenvolvido, em diferentes momentos, a propósito da complexidade deste processo. A um ponto, porém, referido várias vezes neste texto, gostaria de voltar, pela significação que tem para a compreensão crítica do ato de ler e, conseqüentemente, para a proposta de alfabetização a que me consagrei. Refiro-me a que a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele. Na proposta a que me referi acima, este movimento do mundo à palavra e da palavra ao mundo está sempre presente. Movimento em que a palavra dita flui do mundo mesmo através da leitura que dele fazemos. De alguma maneira, porém, podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo mas por uma certa forma de “escrevê-lo” ou de “reescrevê-lo”, quer dizer, de transformá-lo através de nossa prática consciente.
Este movimento dinâmico é um dos aspectos centrais, para mim, do processo de alfabetização. Daí que sempre tenha insistido em que as palavras com que organizar o programa de alfabetização deveriam vir do universo vocabular dos grupos populares, expressando a sua real linguagem, os seus anseios, as suas inquietações, as suas reivindicações, os seus sonhos. Deveriam vir carregadas da significação de sua experiência existencial e não da experiência do educador. A pesquisa do que chamava de universo vocabular nos dava assim as palavras do Povo, grávidas de mundo. Elas nos vinham através da leitura do mundo que os grupos populares faziam. Depois, voltavam a eles, inseridas no que chamava e chamo de codificações, que são representações da realidade.


A palavra tijolo, por exemplo, se inseriria numa representação pictórica, a de um grupo de pedreiros, por exemplo, construindo uma casa. Mas, antes da devolução, em forma escrita, da palavra oral dos grupos populares, a eles, para o processo de sua apreensão e não de sua memorização mecânica, costumávamos desafiar os alfabetizandos com um conjunto de situações codificadas de cuja descodificação ou “leitura” resultava a percepção crítica do que é cultura, pela compreensão da prática ou do trabalho humano, transformador do mundo. No fundo, esse conjunto de representações de situações concretas possibilitava aos grupos populares uma “leitura” da “leitura” anterior do mundo, antes da leitura da palavra.
Esta “leitura” mais crítica da “leitura” anterior menos crítica do mundo possibilitava aos grupos populares, às vezes em posição fatalista em face das injustiças, uma compreensão diferente da sua indigência.
É neste sentido que a leitura crítica da realidade, dando-se num processo de alfabetização ou não e associada sobretudo a certas práticas claramente políticas de mobilização e de organização, pode constituir-se num instrumento para o que Gramsci chamaria de ação contra-hegemônica.
Concluindo estas reflexões em torno da importância do ato de ler, que implica sempre percepção crítica, interpretação e “re-escrita” do lido, gostaria de dizer que, depois, de hesitar um pouco, resolvi adotar o procedimento que usei no tratamento do tema, em consonância com a minha forma de ser e com o que posso fazer.
Finalmente, quero felicitar os idealizadores e os organizadores deste Congresso. Nunca, possivelmente, temos necessitado tanto de encontros como este, como agora.
Notas
(*) Trabalho apresentado na abertura no Congresso Brasileiro de Leitura, realizado em Campinas, nov. 1981.
Paulo Freire______________________________
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. ExtraLibris, 2005. Disponível em: <http://academica.extralibris.info/letramento/a_importancia_do_ato_de_ler_pa.html>. Acesso em: 14 out. 2005.
Original: FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. In: _____________. A importância do ato de ler: em três textos que se completam. 3.ed. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1983. (Coleção Polêmicas do nosso tempo.) p.11-24.
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