Patologia
Philippe Pinel publica o tratado Médico-filosófico sobre alienação ou mania (1801), onde descreve uma nova especialidade médica, a psiquiatria (1847), apontando o homem com distúrbio mental, incapaz de exercer a cidadania.
A doença mental para ser abordada, deve-se considerá-la como produtos da interação das condições de vida social com trajetória específica do indivíduo e sua estrutura psíquica. Assim podem ser entendidas como determinantes ou desencadeantes da doença mental: a poluição sonora e visual intensas, condições de trabalho estressantes, trânsito caótico, índice de criminalidade, excesso de apelo ao consumo, perda de um ente querido, etc.
A psicanálise, segundo Freud, diz que os indivíduos normais e anormais existem com a mesma estrutura de personalidade e de conteúdos que, se mais ou menos ativadas, são responsáveis pelos distúrbios no indivíduo e definiu os quadros clínicos como: Neurose - distúrbios do comportamento, das idéias e dos sentimentos e Psicose - perturbação intensa do indivíduo na relação com a realidade.
No filme Estamira, uma mulher que vive em situação precária no lixão de Caxias, e que conseguiu adaptar-se, sofre de esquizofrenia. Tem momentos de lucidez e de normalidade.
Normal ou Patológico – Anormal
O conceito de normal e patológico é relativo, do ponto de vista cultural, o que numa sociedade é considerado normal, adequado e aceito em outro momento histórico é considerado patológico-anormal. O conceito então, de normalidade acaba por desvelar o poder que a ciência tem de, a partir do diagnóstico fornecido por um especialista, formular o destino do indivíduo rotulado. Michel Foucault, em seu livro Doença Mental e Psicologia diz que “a doença só tem realidade e valor de doença no interior de uma cultura que a reconhece como tal”.
Inclusão
Sempre existiu violência como forma de tratamento para lidar com a doença mental. O doente mental necessita de ajuda terapêutica, no sentido de suporte e facilitação da compreensão dos conteúdos internos que lhe causam transtorno, levando-o a uma reorganização pessoal quanto a valores, projetos de vida, aprender a conviver com perdas, frustrações e a descobrir outras fontes de gratificação na relação com o mundo.
O indivíduo consegue lidar com suas aflições encontrando modos de produção que canalizam este mal-estar de forma produtiva e criativa.
Alguns pacientes que precisam regressar aos seus lares, se deparam com os familiares, agora estranhos, pois ficaram muito tempo afastados. Sendo assim, a família deveria participar e não abandoná-los, mas muitas desistem e são pobres, não podendo cuidar deles e os hospitais funcionam como “proteção”.
“Algumas reuniões do grupo AA (Alcoólatras Anônimos) eram realizadas dentro de um Hospício, onde um amigo participava. Numa das reuniões, um membro desse grupo solicitou que fosse reservado um local dentro do hospital, fora da rotina dos “doentes”, para a realização das mesmas, porém esse amigo se manifestou contra e disse que todos deveriam permanecer juntos, não deveria excluí-los. Para a grande surpresa de todos, um dos internos disse que quando saía dali encontrava desajustes, hipocrisia, muitos envolvidos em guerras e políticas erradas , e que dentro do hospital ele se sentia bem e que era o verdadeiro seu lar”.
Como representado no Filme Bicho de Sete Cabeças, o pai interna o filho no manicômio por conta de intolerância e incompreensão, muito mais do que por alguma patologia e lá ele toma choques elétricos e é medicamentado sem necessidade e isolado em quarto escuro, provocando posterior distúrbio no filho que antes nada tinha. Também denuncia que pessoas são mantidas nos manicômios para que a verba destinada ao tratamento seja maior. Está mais relacionado com o valor econômico do que com o valor terapêutico e social.
E também trabalhado o tema inclusão no filme Um Estranho no Ninho, um prisioneiro simula estar insano para não trabalhar e lá se depara com regras e restrições. A liberdade que queria estava condicionada a constituição do hospício. A rotina era monótona e todos os pacientes eram submetidos. As punições eram feitas com choques elétricos.
A partir de 1946 surge uma nova idéia de tratamento das doenças mentais, através do trabalho de Nise da Silveira, médica alagoana que cria a seção de Terapêutica Ocupacional, hoje Instituto Municipal Nise da Silveira, com ateliês para pintura, modelagens e que em 1952 deu origem ao Museu de Imagens do Inconsciente. Pioneira na arte como recurso terapêutico, utilizava os gatos como seus co-terapeutas, estabelecendo ponte afetiva com os pacientes.
As imagens produzidas no ateliê levantam questões e interrogações que não encontram resposta na formação psiquiátrica acadêmica. Essas questões impulsionaram a Drª. Nise para a busca de conhecimento e aprofundamento dos processos que eram do interior daqueles indivíduos, revelados através de imagem e símbolo.
A pintura permite detectar, mesmo nos casos mais graves, movimentos instintivos das forças auto-curativas da psique, buscando diferentes caminhos. A experiência demonstra que a pintura pode ser utilizada pelo doente como um verdadeiro instrumento para reorganizar a ordem interna.
Diz Mario Pedrosa: “Com efeito, se foi reunindo ao acaso todo um grupo de enfermos-esquizofrênicos tirados dos pátios do hospício para a seção de terapêutica ocupacional, desta para o ateliê, do ateliê para o convívio, onde passou a gerar-se o afeto e o afeto estimula a criatividade”.
“Hoje, apesar de ainda existirem hospitais psiquiátricos, avanços ocorreram e a internação já não é mais a tônica nos tratamentos das psicoses. Clientes psiquiátricos conquistaram maior liberdade de ir e vir e o direito por sua inclusão social”.
É nesse contexto que os ateliês do Museu se inserem atualmente. Os clientes atendidos, na sua maioria internos, já não vivem mais sob as tenazes de uma psiquiatria alucinante e cronificante. Num ambiente de aceitação e afeto, confrontam-se com seus conteúdos internos através de expressões criativas livres e fortalecendo-se para a auto-cura.
Franco Basaglia, psiquiatra italiano fundou o Movimento da Psiquiatria Democrática com a extinção dos manicômios e criando formas novas para cuidar dos pacientes. Foram criadas oficinas de trabalho para geração de renda dos ex-internos, cooperativas de trabalhos e diversos projetos culturais de inserção social.
Exclusão
Assim como a loucura, outras situações levaram e ainda levam a exclusão social, como por exemplo a hanseníase, síndrome de down, racismo e etc.
Numa entrevista à revista Época, a atriz Regina Duarte fala sobre a inclusão escolar das
crianças com Síndrome de Down: “ A inclusão deve ser total, não só na escola. Mas um apoio extracurricular é indispensável. O importante é entender que a vida é feita de matizes, que há vários ritmos. Aprender a lidar com as diferenças é o desafio da democracia. Não dá para isolar ninguém. Claro que segregar é mais cômodo. A estrada da inclusão implica ter de dar o braço a torcer, aprender com o outro, com os dilemas e os desafios da diversidade”. As pessoas que nascem com a trissomia 21 não são doentes, elas têm SD ou são Down.
A questão da exclusão é o pré-conceito. Helena Werneck, mãe de uma adolescente com síndrome, também na mesma entrevista, relata que saiu quase aos prantos de uma pracinha há quase 20 anos, porque as mães olhavam para ela e sua filha bebê, no carrinho, como se fossem marcianas. Ela já viu quase tudo em relação a discriminação, preconceito e falta de recursos mentais da sociedade para enfrentar com naturalidade as diferenças entre as pessoas.
Antigamente as crianças com síndromes eram abandonadas em sanatórios e ficavam retardadas.
A mãe de uma criança com síndrome disse “normal é ser diferente”, como diz Caetano Veloso, de perto, ninguém é normal.
Nas escolas vemos a existência do pré-conceito racial e de classe. E temos o seguinte comentário de um aluno de 14 anos: “Que a carência e a cor da pele de uma criança não sejam tão importantes quanto o brilho dos seus olhos”.
“Outro caso de exclusão fundamental de ser relatado, foi o de um menino de apenas sete anos de idade, com seus pais separados, “visitava” o pai rico em São Paulo nos finais de semana,e regressando ao lar não encontrava sua mãe que havia viajado com o namorado para o Caribe, retornando duas semanas depois. Ele era criado pelos empregados e excluído de sua família”.
Uma jovem foi encontrada morta. Motivo: overdose. Deixou o seguinte bilhete a seus pais:- vocês me deram os presentes mais invejados, as escolas mais famosas e estavam sempre “ocupados” trabalhando, porém eu desejava apenas um pouco de amor e atenção.
E x c l u i r n ã o
No Brasil, o processo da substituição da internação psiquiátrica é iniciado em 1984, com a criação de Núcleos de Atenção Psicossocial (Nanps) e centro de atenção Psicossocial (Caps).Oferecem cuidados intermediários entre o regime ambulatorial e a internação hospitalar.
O dia 18 de maio foi criado como o dia Nacional de Luta Antimanicomial
PENSAR NO HOMEM COMO TOTALIDADE, SER BIOLÓGICO, PSICOLÓGICO E SOCIOLÁGICO E TER BEM ESTAR EM TODAS AS ÁREAS.
“Saúde mental” é, além de uma questão psicológica, uma questão política e que interessa a todos que estão comprometidos com a vida.
Glossário:
Normal: Conforme à norma. Habitual.
Anormal: Que está fora de norma ou padrão, contrário às regras, anômalo(irregularidade).
Patologia: Ramo da medicina que se ocupa da natureza das modificações produzidas pela doença no organismo.
Inclusão: Fazer parte, estar incluído e/ou compreendido, inserido, introduzido.
Exclusão: Ser incompatível, abandonado, eliminado.
Bibliografia:
AQUINO,Ruth. Normal é ser diferente. In: Revista Época, nº 435, setembro de 2006, Rio de Janeiro, Globo.
BENCINI, Roberta. A Questão Racial na Escola. In: Revista Nova Escola, nº 177, novembro de 2004, Rio de Janeiro, Abril.
CAMPOS, Rose. Pelo direito de Inclusão. In: Revista Viver Psicologia, n 137, junho de 2004, São Paulo, Duetto Editorial.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda.Minidicionário da Língua Portuguesa, Nova Fronteira,1999.
BOCK, Ana Mercês Bahia,FURTADO, Odair & TEXEIRINHA, Maria de Lourdes.Saúde ou doença Mental: a questão da Normalidade. In: Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia.São Paulo, Moderna, 1999.
Filmes: Estamira,Brasil, 2006.
Um Estranho no Ninho,1975.
Bicho de Sete Cabeças, no Brasil,2000.
Sites: www.museuimagensdoinconsciente.org.br
www.ccs.saude.gov.br
www.menteecerebro.com.br
Um dos trabalhos mais bem elaborados e interessantes que eu já fiz.
“A Lei nº 10216 de 6 de abril de 2001, que redireciona o modelo assistencial em saúde mental , assegura os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, sem qualquer forma de discriminação, reconhece a responsabilidade do Estado para com a assistência aos portadores de transtornos mentais e extingue progressivamente os manicômios no Brasil”