AMANDINE LUCIE AURORE DUPIN: GEORGE SAND
Mulher de paixões e convicções
Imagine o tamanho de seu espanto, ao se deparar hoje - em pleno século 21 - com uma bela baronesa divorciada, vestindo smoking, fumando seu charuto cubano e com um diversificado portfólio amoroso: um tórrido caso de amor com o compositor mais famoso do mundo e com o médico que o tratou das mazelas de saúde, um escritor jovem e talentoso bem mais moço, a atriz mais cortejada e admirada de sua época, uma prima donna cantora de ópera e um padre excomungado, entre outros. E que esta mulher fosse a mais conhecida, lida e admirada escritora de seu país, pelos seus dezoito livros, vinte peças teatrais e inflamada militância política.
Essa era Amandine Lucie Aurore Dupin, baronesa Dudevant, dita George, romancista francesa que nasceu em Paris, França, no dia 1º de julho de 1804, e faleceu em Nohant, França, no ano de 1876. Seus livros foram muito populares no séc. XIX.
Ficou conhecida por suas ligações amorosas com Frédéric Chopin e com o poeta Alfred de Musset, e por desafiar as convenções sociais fumando charutos e usando roupas masculinas. Atribui-se a ela o mérito de ter sido a primeira mulher a viver de sua produção literária.
Casou-se com o barão Casimir Dudevant em 1822, com quem teria dois filhos, Maurice e Solange. O casal foi morar numa propriedade que Aurore herdara de sua avó em Nohant. Em 1831, insatisfeita com o casamento, deixou seu marido e foi viver em Paris.
Começou a escrever artigos para o jornal "Le Figaro", com a colaboração de seu amante Jules Sandeau. Usavam, então, o pseudônimo de Jules Sand – inspirado no nome de Sandeau. Em 1831, lançaram o livro "Rose et Blanche".
Passou a usar o pseudônimo de George Sand em 1832, quando escreveu, sozinha, o romance "Indiana", que fez grande sucesso. De 1832 a 1837, escreveu romances de amor, notadamente, além de "Indiana", "Valentina" (Valentine, 1832) e "Lélia" (1833). Esses romances refletem seus próprios desejos e frustrações, advogam o direito da mulher de ter um amor sincero e dirigir sua própria vida.
George Sand envolveu-se amorosamente com vários homens, entre eles os escritores Alfred de Musset e Prosper Mérimée e o compositor Frédéric Chopin. Acredita-se que tenha tido um relacionamento amoroso também com a atriz Marie Dorval, sua amiga.
Muitas das obras de Sand foram influenciadas por quem tinha como companheiro na época, embora ela não mudasse seus princípios e pontos de vista para agradar seus amantes. Em 1833, iniciou seu romance com Musset, que terminaria dois anos depois pelo excesso de ciúmes do escritor.
Seu relacionamento mais conhecido e duradouro foi com Chopin, que durou de 1837 a 1847.No inverno de 1838, os dois viajaram para Maiorca, onde o mau tempo afetou bastante o estado de saúde do compositor. Em 1839, voltaram para a França.
Ele e George Sand só haveriam de romper definitivamente um ano depois, por ocasião de uma intricada briga familiar: Sand e a filha, Solange, tiveram um grande atrito, e Chopin, de forma inocente, defendeu a moça. Os dois não se veriam mais, para desgosto do compositor, que ainda a amava: "Jamais amaldiçoei ninguém, mas neste momento tudo me é tão insuportável que eu me aliviaria se pudesse amaldiçoar Lucrezia", disse, na viagem que fez a Londres, em 1848.Chopin faleceria dois anos após o rompimento do casal.
Além de seus comentados relacionamentos, Sand também tinha outros hábitos incomuns para sua época. Às vezes, vestia-se com roupas masculinas por diversão ou praticidade. Também tinha o costume de fumar em público, num tempo em que isso era inaceitável para uma mulher. Comentava-se, ainda, sobre a grande quantidade de obras que produzia como sendo uma característica pouco feminina.
Sand fez amizade com várias personalidades contemporâneas a ela, destacando-se: Flaubert, Balzac, Zola, Sainte-Beuve, Baudelaire, Franz Liszt, Elizabeth e Robert Browning, Dostoievski e Eugène Delacroix.
Obras: Rose et Blanche (com Jules Sandeau, 1831); Indiana (1832); Valentina (Valentine, 1832); Lélia (1833); Le Secrétaire Intime(1834); Lettres d'un Voyager (1834-1837); Jacques (1834); Leone Leoni (1835); André (1835); Simon (1836); Mauprat (1837); Les Maîtres Mosaïstes (1838); L'Uscoque (1838); La Dernière Aldini (1839); Spiridon (1839); Les Sept Cordes de la Lyre (1840); O Companheiro da Viagem pela França (Le Compagnon du Tour de France, 1840); Horace (1842); Consuelo (1842-1843); La Comtesse de Rudolstadt (1844); Jeanne (1844); Lettres à Marcie (1844); Le Meunier D'Angibault (1845); Teverino (1845); Le Péché de Monsieur Antoine (1846); O Charco do Diabo (La Mare au Diable, 1846); Isidora (1846); Lucrezia Floriani (1846); Le Piccinino (1847); Francisco, o Bastardo (François le Champi, 1847-1848); A Pequena Fadette (La Petite Fadette, 1849); Le Château des Désertes (1851); Les Maîtres Sonneurs (1853); A História de Minha Vida (Histoire de Ma Vie, 1854-1855); Adriani (1854); Un Hiver à Majorque (1855); Le Diable aux Champs 1856); Évenor et Leucippe (1856); La Daniella (1857); Les Dames Vertes (1857); Les Beaux Messieurs de Boisdoré (1858); L'Homme de Neige (1858); Ela e Ele (Elle et Lui, 1859); Narcisse (1859); Flavie (1859); Le Marquis de Villemer (1860); Jean de la Roche (1860); Constance Verrier (1860); La Ville Noire (1860); Valvèdre (1861); La Famille de Germandre (1861); Tamaris (1862); Antonia (1862); Mademoiselle la Quintinie (1863); Laura, Voyage Dans le Cristal (1864); La Confession d'une Jeune Fille (1865); Monsieur Sylvestre (1865); Le Dernier Amour (1867); Cadio (1868); Mille de Merquem (1868); Pierre Qui Roule (1870); Malgrétout (1870); Césarine Dietrich (1871); Francia (1872); Nanon (1872); Contos de uma Avó (Contes d'une Grand-Mère, 1873); Ma Soeur Jeanne (1874); La Tour de Percemont (1876); Oeuvres Complètes (1882-1883); Journal Intime (1926); Oeuvres Autobiographiques (1970).
Carta à senhorita Leroyer de ChantepieGeorge Sand
Senhorita(...) Detalhes da existência apenas se me apresentam como romances mais ou menos felizes que conduzem todos a uma conclusão geral: a sociedade deve ser reformada de cima abaixo.Parece-me que ela se dá à mais cruel desordem e entre todas as iniqüidades consagradas no seu interior, a mais destacada parece-me ser as relações de homens e mulheres as quais estão estabelecidas de modo injusto e absurdo.
Daí que não possa aconselhar ninguém a ingressar no casamento, sancionado pela lei civil que continua a sustentar a dependência, inferioridade e nulidade social da mulher. Passei dez anos em reflexão a respeito deste tema e, após ter me perguntado porque todos os amores neste mundo, legitimados ou não pela sociedade, eram mais ou menos infelizes, quaisquer que fossem as qualidades e virtudes das almas neste modo associadas, estou convencida da impossibilidade radical da felicidade perfeita e do amor ideal, em condições de desigualdade, inferioridade e de dependência de um sexo em relação a outro.
Seja pela lei, seja por uma moralidade universalmente reconhecida, seja pela opinião ou pelo preconceito, permanece o fato de que a mulher, tendo se entregado ao homem está agrilhoada ou na condição de réu. Agora, a senhorita me pergunta se pode ser feliz através do amor e do casamento. Não creio que a senhorita será feliz através de qualquer do dois, disso estou convencida.
Porém, se a senhorita me pergunta em que outras condições a felicidade da mulher pode ser encontrada, dir-lhe-ia que sou incapaz de despedaçar e remodelar toda a sociedade inteiramente e, bem sabendo que ela durará muito além da nossa própria breve estada neste mundo, devo colocar a felicidade das mulheres em um futuro no qual firmemente acredito, no qual deveremos voltar a melhores condições na vida humana, no seio de uma sociedade mais iluminada, na qual nossas intenções serão melhores compreendidas e nossa dignidade melhor estabelecida.