Além da Letra

"Cada enunciado é um elo de uma cadeia muito complexa de outros enunciados" Mickail Bakhtin

segunda-feira, janeiro 22, 2007

TECENDO A MANHÃ



Um galo sozinho não tece uma manhã;
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
Que apanhe o grito que um galo antes
E o lance a outro; e de outros galos
que com muitos galos se cruzem
os fios de sol de seus fios de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendo para todos, no toldo
( a manhã ) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
Que tecido, se eleva por si: luz balão.



João Cabral de Melo Neto

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Quem lê abre os olhos, lê o mundo.


Quem abre os olhos, lê o mundo. Quem lê, gosta de contar. Lendo, conhecemos um pouco mais do que vemos. Quem enxerga mais longe, pode escolher melhor. Não garante, infelizmente, sermos melhores nas nossas relações com os outros, mas bem poderia será assim: o conhecimento, como o queriam os antigos filósofos, poderia estar associado ao bem maior, à máxima beleza. Enquanto procuramos saber o que é isto, vamos lendo e contando para que outros descubram os mundos que dormem nas palavras.

As histórias, as de ficção mais que outras, quando passam de boca a ouvido, vão deixando em nós o gosto por mais histórias. Histórias dos homens, histórias da vida, história do mundo. Por isso, há milênios, quando não havia a escrita impressa, e os códigos alfabéticos estavam em mãos de poucos, a experiência e a reflexão ganharam caminho nas vozes dos contadores de histórias. Foi assim que não perdemos a memória e até hoje, o que entra pelo coração, não se perde mais.

O mundo mudou muito desde então, sobretudo porque a comunicação eletrônica nos põe, dentro de casa, todos os acontecimentos, quase instantaneamente. Com isto as informações se avolumam e não dá tempo de amadureçam em nós. Por isto, parece saudável retornar o programa de ouvir e contar histórias, as de ontem como as de hoje, que calam fundo em nós e ficam algum tempo, reelaborando-se com a força de nossa própria fantasia, de leitores/ouvintes.

Aos pais - pois já não se fazem avós como antigamente – os adultos em geral, bem poderia caber a retomada desta memorável tradição; não que se pretenda restaurar a reunião ao pé do fogo, mas a transmissão de experiências, de que as narrativas são um veículo privilegiado. Coisa que, aliás, não é de criança apenas. Pensando bem, nossas conversas são, freqüentemente, “ casos “ vividos. A diferença é que alguns são para sempre.

Eliana Yunes

Pesquisadora, crítica e professora de literatura

Set/92.



quarta-feira, janeiro 17, 2007


AMANDINE LUCIE AURORE DUPIN: GEORGE SAND

Mulher de paixões e convicções

Imagine o tamanho de seu espanto, ao se deparar hoje - em pleno século 21 - com uma bela baronesa divorciada, vestindo smoking, fumando seu charuto cubano e com um diversificado portfólio amoroso: um tórrido caso de amor com o compositor mais famoso do mundo e com o médico que o tratou das mazelas de saúde, um escritor jovem e talentoso bem mais moço, a atriz mais cortejada e admirada de sua época, uma prima donna cantora de ópera e um padre excomungado, entre outros. E que esta mulher fosse a mais conhecida, lida e admirada escritora de seu país, pelos seus dezoito livros, vinte peças teatrais e inflamada militância política.
Essa era Amandine Lucie Aurore Dupin, baronesa Dudevant, dita George, romancista francesa que nasceu em Paris, França, no dia 1º de julho de 1804, e faleceu em Nohant, França, no ano de 1876. Seus livros foram muito populares no séc. XIX.
Ficou conhecida por suas ligações amorosas com Frédéric Chopin e com o poeta Alfred de Musset, e por desafiar as convenções sociais fumando charutos e usando roupas masculinas. Atribui-se a ela o mérito de ter sido a primeira mulher a viver de sua produção literária.
Casou-se com o barão Casimir Dudevant em 1822, com quem teria dois filhos, Maurice e Solange. O casal foi morar numa propriedade que Aurore herdara de sua avó em Nohant. Em 1831, insatisfeita com o casamento, deixou seu marido e foi viver em Paris.
Começou a escrever artigos para o jornal "Le Figaro", com a colaboração de seu amante Jules Sandeau. Usavam, então, o pseudônimo de Jules Sand – inspirado no nome de Sandeau. Em 1831, lançaram o livro "Rose et Blanche".
Passou a usar o pseudônimo de George Sand em 1832, quando escreveu, sozinha, o romance "Indiana", que fez grande sucesso. De 1832 a 1837, escreveu romances de amor, notadamente, além de "Indiana", "Valentina" (Valentine, 1832) e "Lélia" (1833). Esses romances refletem seus próprios desejos e frustrações, advogam o direito da mulher de ter um amor sincero e dirigir sua própria vida.
George Sand envolveu-se amorosamente com vários homens, entre eles os escritores Alfred de Musset e Prosper Mérimée e o compositor Frédéric Chopin. Acredita-se que tenha tido um relacionamento amoroso também com a atriz Marie Dorval, sua amiga.
Muitas das obras de Sand foram influenciadas por quem tinha como companheiro na época, embora ela não mudasse seus princípios e pontos de vista para agradar seus amantes. Em 1833, iniciou seu romance com Musset, que terminaria dois anos depois pelo excesso de ciúmes do escritor.
Seu relacionamento mais conhecido e duradouro foi com Chopin, que durou de 1837 a 1847.No inverno de 1838, os dois viajaram para Maiorca, onde o mau tempo afetou bastante o estado de saúde do compositor. Em 1839, voltaram para a França.
Ele e George Sand só haveriam de romper definitivamente um ano depois, por ocasião de uma intricada briga familiar: Sand e a filha, Solange, tiveram um grande atrito, e Chopin, de forma inocente, defendeu a moça. Os dois não se veriam mais, para desgosto do compositor, que ainda a amava: "Jamais amaldiçoei ninguém, mas neste momento tudo me é tão insuportável que eu me aliviaria se pudesse amaldiçoar Lucrezia", disse, na viagem que fez a Londres, em 1848.Chopin faleceria dois anos após o rompimento do casal.
Além de seus comentados relacionamentos, Sand também tinha outros hábitos incomuns para sua época. Às vezes, vestia-se com roupas masculinas por diversão ou praticidade. Também tinha o costume de fumar em público, num tempo em que isso era inaceitável para uma mulher. Comentava-se, ainda, sobre a grande quantidade de obras que produzia como sendo uma característica pouco feminina.
Sand fez amizade com várias personalidades contemporâneas a ela, destacando-se: Flaubert, Balzac, Zola, Sainte-Beuve, Baudelaire, Franz Liszt, Elizabeth e Robert Browning, Dostoievski e Eugène Delacroix.
Obras: Rose et Blanche (com Jules Sandeau, 1831); Indiana (1832); Valentina (Valentine, 1832); Lélia (1833); Le Secrétaire Intime(1834); Lettres d'un Voyager (1834-1837); Jacques (1834); Leone Leoni (1835); André (1835); Simon (1836); Mauprat (1837); Les Maîtres Mosaïstes (1838); L'Uscoque (1838); La Dernière Aldini (1839); Spiridon (1839); Les Sept Cordes de la Lyre (1840); O Companheiro da Viagem pela França (Le Compagnon du Tour de France, 1840); Horace (1842); Consuelo (1842-1843); La Comtesse de Rudolstadt (1844); Jeanne (1844); Lettres à Marcie (1844); Le Meunier D'Angibault (1845); Teverino (1845); Le Péché de Monsieur Antoine (1846); O Charco do Diabo (La Mare au Diable, 1846); Isidora (1846); Lucrezia Floriani (1846); Le Piccinino (1847); Francisco, o Bastardo (François le Champi, 1847-1848); A Pequena Fadette (La Petite Fadette, 1849); Le Château des Désertes (1851); Les Maîtres Sonneurs (1853); A História de Minha Vida (Histoire de Ma Vie, 1854-1855); Adriani (1854); Un Hiver à Majorque (1855); Le Diable aux Champs 1856); Évenor et Leucippe (1856); La Daniella (1857); Les Dames Vertes (1857); Les Beaux Messieurs de Boisdoré (1858); L'Homme de Neige (1858); Ela e Ele (Elle et Lui, 1859); Narcisse (1859); Flavie (1859); Le Marquis de Villemer (1860); Jean de la Roche (1860); Constance Verrier (1860); La Ville Noire (1860); Valvèdre (1861); La Famille de Germandre (1861); Tamaris (1862); Antonia (1862); Mademoiselle la Quintinie (1863); Laura, Voyage Dans le Cristal (1864); La Confession d'une Jeune Fille (1865); Monsieur Sylvestre (1865); Le Dernier Amour (1867); Cadio (1868); Mille de Merquem (1868); Pierre Qui Roule (1870); Malgrétout (1870); Césarine Dietrich (1871); Francia (1872); Nanon (1872); Contos de uma Avó (Contes d'une Grand-Mère, 1873); Ma Soeur Jeanne (1874); La Tour de Percemont (1876); Oeuvres Complètes (1882-1883); Journal Intime (1926); Oeuvres Autobiographiques (1970).
Carta à senhorita Leroyer de ChantepieGeorge Sand

Senhorita(...) Detalhes da existência apenas se me apresentam como romances mais ou menos felizes que conduzem todos a uma conclusão geral: a sociedade deve ser reformada de cima abaixo.Parece-me que ela se dá à mais cruel desordem e entre todas as iniqüidades consagradas no seu interior, a mais destacada parece-me ser as relações de homens e mulheres as quais estão estabelecidas de modo injusto e absurdo.
Daí que não possa aconselhar ninguém a ingressar no casamento, sancionado pela lei civil que continua a sustentar a dependência, inferioridade e nulidade social da mulher. Passei dez anos em reflexão a respeito deste tema e, após ter me perguntado porque todos os amores neste mundo, legitimados ou não pela sociedade, eram mais ou menos infelizes, quaisquer que fossem as qualidades e virtudes das almas neste modo associadas, estou convencida da impossibilidade radical da felicidade perfeita e do amor ideal, em condições de desigualdade, inferioridade e de dependência de um sexo em relação a outro.
Seja pela lei, seja por uma moralidade universalmente reconhecida, seja pela opinião ou pelo preconceito, permanece o fato de que a mulher, tendo se entregado ao homem está agrilhoada ou na condição de réu. Agora, a senhorita me pergunta se pode ser feliz através do amor e do casamento. Não creio que a senhorita será feliz através de qualquer do dois, disso estou convencida.
Porém, se a senhorita me pergunta em que outras condições a felicidade da mulher pode ser encontrada, dir-lhe-ia que sou incapaz de despedaçar e remodelar toda a sociedade inteiramente e, bem sabendo que ela durará muito além da nossa própria breve estada neste mundo, devo colocar a felicidade das mulheres em um futuro no qual firmemente acredito, no qual deveremos voltar a melhores condições na vida humana, no seio de uma sociedade mais iluminada, na qual nossas intenções serão melhores compreendidas e nossa dignidade melhor estabelecida.
Victor Hugo (1802-1885), o famoso romancista e poeta francês
Victor Hugo (26 de fevereiro de 1802 em Besançon - 22 de maio de 1885, Paris) foi um escritor e poeta francês, autor de Les Misérables e de Notre-Dame de Paris, entre diversas outras obras.
Filho de Joseph Hugo e de Sophie Trébuchet, nasceu em Besançon, no Doubs, mas passou a infância em Paris. Estadias em Nápoles e na Espanha acabaram por influenciar profundamente sua obra. Funda com os seus irmãos em 1819 uma revista, o Conservateur littéraire (Conservador literário), que já chama a atenção para o seu talento. No mesmo ano, ganha o concurso da Académie des Jeux Floraux.
O seu primeiro recolhimento de poemas, Odes, é publicado em 1822: tem então vinte anos. Mas é com Cromwell, publicado em 1827, que alcançará o sucesso. No prefácio deste drama, opõe-se às convenções clássicas, em especial à unidade de tempo e à unidade de lugar.
Tem, até uma idade avançada, diversas amantes, sendo a mais famosa Juliette Drouet, atriz sem talento que lhe dedica a sua vida, e a quem ele escreve numerosos poemas. Ambos passavam juntos o aniversário do seu encontro e preenchiam, nesta ocasião, ano após ano, um caderno comum que nomeavam o Livro do aniversário.
Criado por sua mãe no espírito da monarquia, acaba por se convencer, pouco a pouco, do interesse da democracia ("Cresci", escreve num poema onde se justifica). A sua idéia é que "onde o conhecimento está apenas num homem, a monarquia se impõe." Onde está num grupo de homens, deve fazer lugar à aristocracia. E quando todos têm acesso às luzes do saber, então vem o tempo da democracia". Tendo se tornado favorável a uma democracia liberal e humanitária, é eleito deputado da Segunda República em 1848, e apóia a candidatura do "príncipe Louis-Napoléon", mas se exila após o golpe de Estado de 2 de Dezembro de 1851, que ele condena vigorosamente por razões morais (Histoire d'un crime).

Durante o Segundo Império, em oposição a
Napoléon III, vive em exílio em Jersey, Guernsey e Bruxelas. É um dos únicos proscritos a recusar a anistia decidida algum tempo depois: « Et s'il n'en reste qu'un, je serai celui-là » ("e se sobra apenas um, serei eu"). A morte da sua filha, Leopoldina, deixou-o a tal ponto desamparado que se deixa tentar, na sua lembrança, por experiências espíritas relatadas numa obra diferente nomeada Les tables tournantes de Jersey.
De acordo com seu último desejo, seu corpo é depositado em um caixão humilde que é enterrado no Panthéon. Tendo ficado vários dias exposto sob o Arco do Triunfo, estima-se que 1 milhão de pessoas vieram lhe prestar uma última homenagem.

Pensamento político
A partir de
1849, Victor Hugo dedica um quarto da sua obra à política, um quarto à religião e outro à Filosofia humana e social. Se o pensamento de Victor Hugo pode parecer complexo e às vezes contraditório, não se pode dizer que seja maniqueísta.

Reformista, deseja mudar a sociedade mas não mudar de sociedade. Se ele justifica o enriquecimento, denuncia violentamente a desigualdade social. É contra os ricos que capitalizam os seus lucros sem reinjetá-los na produção. A elite burguesa jamais o perdoará por isso. Ele também se opõe à violência quando ela se aplica contra um poder democrático, mas a justifica (conforme à
Declaração dos direitos do homem) contra um poder ilegítimo. É assim que, em 1851, lança um chamado à luta - "carregar seu fuzil e ficar preparado" - que não é seguido. Mantém esta posição até 1870, quando começa a Guerra Franco-Prussiana; Hugo a condena: "guerra de capricho" e não de liberdade. Em seguida, o império é deposto e a guerra continua, desta vez contra a república; o argumento de Hugo em favor da fraternização resta, ainda, sem resposta. É assim que, em 17 de Setembro, publica uma chamada ao levantamento de massa e à resistência. Os republicanos moderados ficam horrorizados: preferem Bismarck aos "socialistas"! A população de Paris, no entanto, se mobiliza e lê avidamente Les Châtiments. Ver Comuna de Paris.
Coerente, Hugo não podia ser comunista: "O significado da Comuna é imenso, ela poderia fazer grandes coisas, mas na verdade faz somente pequenas coisas. E pequenas coisas que são odiosas, é lamentável. Compreendam-me: sou um homem de revolução. Aceito, assim, as grandes necessidades, mas somente sob uma condição: que sejam a confirmação dos princípios e não o seu desrespeito. Todo o meu pensamento oscila entre dois pólos: civilização-revolução "." A construção de uma sociedade igualitária só será possível se for conseqüência de uma recomposição da sociedade liberal." No entanto, diante da repressão que se abate sobre os comunistas, o poeta declara seu desgosto: "Alguns bandidos mataram 64 reféns. Replica-se matando 6000 prisioneiros!" .
Denunciando até o fim a segregação social, Hugo declara durante a última reunião pública que preside: "A questão social perdura. Ela é terrível, mas é simples: é a questão dos que têm e dos que não têm!". Tratava-se precisamente de recolher fundos para permitir a 126 delegados operários a viagem ao primeiro Congresso socialista da França, em
Marselha.
Victor Hugo pronunciou durante a sua carreira política quatro grandes discursos:

-um sobre a defesa do litoral;
-um sobre a condição feminina;
-um sobre o ensino religioso;
-uma argumentação contra a pena de morte.
Está pois a pena de morte abolida nesse nobre Portugal, pequeno povo que tem uma grande história. (...) Felicito a vossa nação. Portugal dá o exemplo à Europa. Desfrutai de antemão essa imensa glória. A Europa imitará Portugal. Morte à morte! Guerra à guerra! Viva a vida! Ódio ao ódio. A liberdade é uma cidade imensa da qual todos somos concidadãos
Victor Hugo, 1876, a propósito da abolição da pena de morte em Portugal (o primeiro país europeu a fazê-lo).


Lamartine Babo


Lamartine de Azeredo Babo - o Lalá - nasceu no Rio de Janeiro em 08 de Março de 1904. Foi o mais versátil de todos os compositores do começo do século. Começou a compor aos 14 anos - uma valsa. Quando foi para o Colégio São Bento dedicou-se à músicas religiosas - depois foi a vez das operetas.
Mas ficou acabou ficando conhecido como o Rei do Carnaval, vencendo, por anos consecutivos, com suas marchinhas divertidas - cantadas até hoje, como O Teu Cabelo Não Nega, Grau 10, Linda Morena, e A Marchinha do Grande Galo. Fez também a maioria dos hinos dos grandes times brasileiros - sendo o primeiríssimo em seu coração o América.
Lalá era uma das pessoas mais bem humoradas e divertidas de sua época, não perdendo nunca a chance de um trocadilho ou de uma piada. Em uma entrevista afirmou "Eu me achava um colosso. Mas um dia, olhando-me no espelho, vi que não tenho colo, só tenho osso". Numa outra, o entrevistador pergunta qual era a maior aspiração dos artistas do broadcasting, Lalá não vacila: "A aspiração varia de acordo com o temperamento de cada um... Uns desejam ir ao céu... já que atuam no éter... Outros ‘evaporam-se’ nesse mesmo éter... Os pensamentos da classe são éter... ó... gênios..." - valeu-lhe o título de O Pior Trocadilho de 1941. E aconteceu também o caso dos correios: Lalá foi enviar um telegrama. O telegrafista bateu então o lápis na mesa em morse para seu colega: "Magro, feio e de voz fina". Lalá tirou o seu lápis e bateu: "Magro, feio, de voz fina e ex-telegrafista"
Certa vez, recebeu de Boa Esperança, MG, uma carta apaixonada de uma certa Nair Pimenta de Oliveira, pedindo fortografias para um álbum de recordações. Lalá mandou as fotos e se correspondeu por um ano com a fã apaixonada, até que esta interrompeu as cartas porque ia se casar. Convidado, tempos depois, para ir à Boa Esperança por um dentista, Lalá se apressa para conhecer Nair - surpresa, não existia nenhuma Nair, quem lhe escrevia era o próprio dentista, que colecionava fotos de celebridades, e viu essa forma como a única de conseguir o queria. Lamartine, então compôs uma de suas mais belas canções "Serra da Boa Esperança".
Não perdeu o humor nem no final da vida. Em 63, um repórter que fora ao Copacabana para entrevistar Carlos Machado, aproveitou que Lamartine estava lá para também fazer uma entrevista. Lalá perguntou se a reportagem sairia naquele dia, e o repórter disse que não, naquele dia seria exibida uma entrevista com Tom Jobim, que chegara dos Estados Unidos. Lalá: "Ah! Quer dizer que agora estou um tom abaixo?". Faleceu em 16 de Junho do mesmo ano, no Rio de Janeiro.



Assis Chateaubriand



Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo (Umbuzeiro, 4 de outubro de 1892São Paulo, 4 de abril de 1968) foi um jornalista, empreendedor, mecenas e político brasileiro. Era mais conhecido por Assis Chateaubriand ou por Chatô.


O
paraibano Assis Chateaubriand, criou e dirigiu a maior cadeia de imprensa do país, os Diários Associados: 34 jornais, 36 emissoras de rádio, 18 estações de televisão, uma agência de notícias, uma revista semanal (O Cruzeiro), uma mensal (A Cigarra), várias revistas infantis e uma editora.
A estréia no jornalismo aconteceu aos quinze anos, na Gazeta do Norte. Dedicou-se então Chateaubriand ao jornalismo, escrevendo no "Jornal Pequeno" e no veterano "Diário de Pernambuco". No Diário de Pernambuco enfrentou uma situação inusitada: Teve que dormir na redação do jornal, e chegou a pegar em
armas para se defender da multidão que se empoleirava na frente do jornal para protestar contra a vitória do candidato Rosa e Silva (proprietário do jornal). Em 1917, já no Rio de Janeiro, colaborou no "Correio da Manhã", em cujas páginas publicaria impressões da viagem à Europa, em 1920.
Em
1924 assumiu a direção de O Jornal - o denominado "órgão líder dos Diários Associados" - e já, no mesmo ano, consegue comprá-lo graças a recursos financeiros fornecidos por Percival Farquhar que Chateubriand, alegadamente, teria recebido como honorários advocatícios. Substituiu artigos soníferos por reportagens instigantes e deu certo. A partir daí começou a constituir seu império jornalístico, ao qual foi agregando importantes jornais, como o Diário de Pernambuco , o jornal diário mais antigo da América Latina, e o Jornal do Comércio , o mais antigo do Rio de Janeiro. No ano seguinte, Chatô arrebatou o Diário da Noite, de São Paulo. Nessa altura, já tinha o jornal líder de mercado na maioria das capitais brasileiras.
A ascensão do império jornalístico de Assis Chateubriand deve ser entendida no quadro das transformações políticas do Brasil durante as décadas de
1920 e 1930, quando o consenso político oligárquico e fechado da República Velha, centrado em torno da elite agrária de São Paulo, começou a ser contestado por elites burguesas emergentes da periferia do país; não é uma coincidência que Chateaubriand tenha apoiado o movimento revolucionário de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder, assim como durante toda sua vida tenha fanfarroneado a sua condição de provinciano que chegou ao centro do poder como uma espécie de bucaneiro político. A ética quase nunca constava da sua estratégia empresarial: chantageava as empresas que não anunciassem em seus veículos, publicava poesias de seus maiores anunciantes em seus diários e mentia descaradamente para agredir os inimigos. Farto de ver seu nome na lista de insultos, o industrial Francisco Matarazzo ameaçou "resolver a questão à moda napolitana: pé no peito e navalha na garganta”. Chateaubriand devolveu: "Responderei com métodos paraibanos, usando a peixeira para cortar mais embaixo”. Foi também inimigo declarado de Rui Barbosa e Rubem Braga. Apesar disso Chatô teve relação cordiais (e sempre movidas a interesses econômicos) com muitas pessoas influentes, o Conde Francisco Matarazzo, Rodrigues Alves, o presidente da poderoso truste canadense de utilidades públicas Light & Power Alexander Mackenzie , o empresário americano Percival Farquhar e Getúlio Vargas . Caracterizou-se aliás - muito embora fosse um representante tipico da burguesia nacional emergente da época - pelas suas posturas pró-capital estrangeiro e pró-imperialismo, primeiro o britânico, depois o americano: além de muito ligado aos interesses da City londrina (sua escandalosa embaixada na Inglaterra, na década de 50, foi a realização de um velho sonho pessoal), conta a anedota que ele teria uma vez dito que o Brasil, perante os EUA, estava na condição de uma "mulata sestrosa" que tinha de aceder às vontades dos seu gigolô...
Não obstante sua amoralidade assumida, Assis foi um empresário genuíno, com espírito inquieto e empreendedor, sempre adquirindo novas
tecnologias para os Diários Associados, foi assim com a máquina Multicolor, a mais moderna máquina rotativa que se tinha noticia , e cujo o grupo de Chateaubriand foi o 1º e único a possuir por longo tempo , e foi assim também com os serviços fotográficos da Wide World Photo, esses serviços possibilitavam uma transmissão de fotos do exterior com uma rapidez muito maior do que possuía qualquer outro veiculo nacional. Foi assim também com a publicidade, grandes contratos de excluisvidade para lançamento de produtos com a General Eletrics , e para o Pó achocolatado Toddy , cujos anúncios estavam sempre nas paginas de seus jornais e revistas. Além disso, a moda dos anúncios em jornal pegou e nas paginas dos jornais dos Diários Associados apareciam anúncios sobre modess e cheque bancário, itens que na década de 1930 eram revolucionários.
Publicou mais de 11870 artigos assinados em seus jornais dando oportunidades a
escritores e artistas desconhecidos que depois virariam grandes nomes da literatura ,do jornalismo e da pintura , dentre eles Graça Aranha, Millôr Fernandes, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Cândido Portinari, entre outros.
Com o tempo Chateaubriand foi dando menos importância a seus jornais e se focando em novas empreitadas, como o
rádio e a televisão. Na década de 1960 os jornais atolavam-se em dívidas e trocavam as grandes reportagens por matérias pagas. Foi assim, com esse espírito de vencedor, empreendedor, às vezes sem muita ética, mais temido do que amado que Assis Chateaubriand fundou e ruiu em dividas (advindas das novas tecnologias importadas) com o maior império das telecomunicações no país. A sua única obra que ficou para a posteridade foi o Museu de Arte de São Paulo (MASP), com uma coleção privada de pinturas de grandes mestres europeus que ele havia sabido adquirir a preços de ocasião na Europa empobrecida do Pós-Segunda Guerra Mundial (em aquisições por vezes financiadas a base da chantagem de empresários brasileiros), coleção esta que o presidente Juscelino Kubitschek havia tido o bom senso de, durante seu governo, colocar sob a gestão de uma fundação, em troca de auxílio governamental ao pagamento de parte da astronômica dívida do condomínio associado.
Em
10 de agosto de 1967, Assis Chateaubriand entregou ao Magnífico Reitor da Fundação Universidade Regional do Nordeste (hoje UEPB), Prof. Edvaldo de Souza do Ó, o primeiro acervo do Museu Regional de Campina Grande, localizado em Campina Grande - PB. O acervo foi chamado de "Coleção Assis Chateaubriand, com 120 peças. A partir daí o museu passou a ser chamado de "Museu de Artes Assis Chateaubriand".
Em
1968 morria Chateaubriand, velado ao lado de duas pinturas dos grandes mestres: um cardeal de Velázquez e um nu de Renoir , simbolizando, segundo seu protegido, o arquiteto italiano e organizador do acervo do MASP Pietro Maria Bardi, as três coisas que mais amou na vida: O poder, a arte e a mulher pelada. Morreu também com seu império se esfacelando e com o surgimento do reinado de Roberto Marinho.
O Condomínio Acionário das Emissoras e Diários Associados é em seu conjunto o 6º maior grupo de comunicações do país. Tendo como carro chefe cinco jornais em grandes cidades do Brasil, lideres em suas respectivas praças (dos 15 que ainda restam.).
Foi um dos homens mais influentes do
Brasil nas décadas de 40 e 50 em vários campos da sociedade brasileira. Foi dono de um império jornalístico – os Diários e Emissoras Associadas –, que começa a se formar no final dos anos 30 e chega a reunir mais de cem jornais, revistas, estações de rádio e de TV. Pioneiro na transmissão de televisão brasileira, cria a TV Tupi em 1950.
Durante o
Estado Novo, consegue de Getúlio Vargas a promulgação de um decreto que lhe dá direito à guarda de uma filha, após a separação de sua mulher. Nesse episódio, profere uma frase célebre: “Se a lei é contra mim, vamos ter que mudar a lei”. Em 1952 é eleito senador pela Paraíba e em 1955 pelo Maranhão, em duas eleições escandalosamente fraudulentas. É temido pelas campanhas jornalísticas que move, como a em defesa do capital estrangeiro e contra a criação da Petrobrás. Funda o Museu de Arte de São Paulo em 1947. Trabalha até o final da vida, mesmo depois de uma trombose ocorrida em 1960, que o deixa paralisado e capaz de comunicar-se apenas por balbucios e por uma máquina de escrever adaptada .
Deixou os
Diários Associados para um grupo de 22 funcionários, atualmente liderados por Paulo Cabral de Araújo.
Anjos e santos nascendo
em mãos de gangrena e lepra
(...) todos os sonhos barrocos
deslizando pelas pedras.
Cecília Meireles
(Exposição de Aleijadinho no CCBB)
Sobre o vale profundo,
onde flui o rio Maranhão,
sobre compos de Congonha,
na paz das minas exauridas,
conversam entre si os profetas.
Carlos Drummond de Andrade
"Discenir o que se deve fazer quando pode e de trabalhar o que pode,
para fazer quando se deve"


Quando a alma tonifica-se de AMOR, a vida torna-se um lindo arco-iris.


sexta-feira, janeiro 05, 2007

“Todos têm direito à vida digna, à cidadania. A sociedade existe para isso. Ou, então, ela simplesmente não presta para nada.”
Betinho


“A verdadeira cidadania não tem idade, cor, raça, sexo ou gosto. Tem apenas uma qualidade fundamental: Ser gente.”
Ari Herculano de Souza